‘Nenhum governante merece o tratamento que tive do governo federal’, afirma ACM Neto, em coletiva (Foto: Evandro Veiga/CORREIO)
Implantação do projeto do BRT, reforma da orla entre Ondina e Rio Vermelho, requalificação do Bonfim, da Estrada Velha do Aeroporto e de São Cristóvão, macrodrenagem da bacia do Rio Trobogy e de áreas na Cidade Baixa, contenção de encostas e financiamento para construir o Hospital Municipal. Essas são algumas obras da prefeitura de Salvador que dependem de verbas federais e que, para o prefeito ACM Neto (DEM), só agora, com o governo Michel Temer, poderão começar ou terminar.
Em entrevista coletiva concedida, ontem, no Palácio Tomé de Souza, Neto afirmou que as expectativas quanto a relação com o novo governo são “as melhores possíveis”. Isso porque, segundo o prefeito, Temer conhece as pautas da cidade e “firmou um compromisso com muita alegria” de que dará atenção especial à capital baiana.
“Tenho confiança de que não só o BRT, mas outros projetos estruturantes para a cidade vão sair do papel. É muita coisa. Temos uma carteira de projetos que a gente veio desenvolvendo e estão prontos para a gente começar a discutir com o governo. Se não todos, quase todos só poderão se materializar depois do prazo da legislação eleitoral. Mas, seja quem for o prefeito em janeiro de 2017, ele vai ser o grande beneficiário de tudo que fizemos”, afirmou.
No caso do BRT, corredor exclusivo para ônibus que ligará a Estação da Lapa à região do Iguatemi, o prefeito frisou que o repasse de verbas para a construção do projeto foi uma promessa da presidente afastada Dilma Rousseff, firmada em outubro de 2013. Desde então, segundo ele, “só houve protelação” para cumprir o acordo.
Quase três anos depois, o BRT não saiu do papel pela demora do governo federal em destinar os recursos prometidos. “O presidente (interino) Michel Temer conhece esse projeto e esperamos que agora ele possa andar”. No entanto, disse Neto, essa é uma das obras que só devem sair após as eleições municipais deste ano.
Demora
Já as intervenções no canal do Trobogy, que tiveram convênio assinado no ano passado com o Ministério das Cidades, foram desaceleradas por falta de recursos. “A obra começou e o ritmo passou a ser lento, porque não houve a liberação dos recursos federais. Cheguei a dar ordem às empresas para que, se fosse necessário, parassem a obra”, disse Neto.
A requalificação do Trobogy envolve uma quantia de R$ 164 milhões, sendo R$ 30 milhões em contrapartida da prefeitura. Já para erguer o Hospital Municipal, em Cajazeiras, o prefeito espera conseguir empréstimo no Banco do Brasil. “Temos o recurso para construir, mas, se vier o financiamento, desonera o Tesouro municipal”, argumentou.
Parceria
Para o prefeito, a relação do governo federal com Salvador deve mudar porque Temer sempre teve postura favorável aos pleitos da prefeitura – especialmente, após assumir a coordenação política do governo, no início de 2015. “Ele tentou até onde pôde fazer avançar essas demandas, mas sempre esbarrou numa posição dificultadora por parte do PT”, declarou
Neto disse que a gestão petista impediu que projetos de grande importância pudessem avançar, mesmo com acordos firmados e compromissos assumidos. “Eu credito isso a uma postura de total má-vontade que havia no governo federal por parte do PT”, afirmou, antes de dizer que agora espera uma relação “fluida”, de parceria efetiva e de portas abertas com Temer e sua equipe em Brasília.
Diferenças
Quanto à relação com o governo do estado, Neto afirmou que pretende ter uma postura diferente da que o governo Dilma Rousseff teve com a prefeitura de Salvador. Da mesma forma, reforçou que o fato de os três senadores baianos terem votado contra o impeachment, bem como a maioria da bancada de deputados da Bahia, não resultará em perseguição política.
“Queremos ser facilitadores das coisas da Bahia. Não é razoável, não é justo que a Bahia pague qualquer preço por conta de diferenças político-partidárias estabelecidas e verificadas na votação no Senado. Garanto a vocês que estaremos lá para advogar as questões do estado. Não quero e acho que ninguém que governa merece o tratamento que tive durante três anos e cinco meses por parte do governo federal”, salientou.
Para Neto, as votações pelo impeachment na Câmara dos Deputados e no Senado foram contundentes e o processo respeitou a Constituição e o estado democrático de direito. “É hora desses que estão saindo do governo deixarem de lado o discurso do golpe e entenderem que o mal que já foi causado ao país não pode se agravar”, disse.
Ministério
Antes do afastamento de Dilma, o deputado Mendonça Filho (DEM-PE) tinha sido confirmado como novo ministro da Educação e Cultura. Segundo Neto, o DEM havia votado pela participação no governo Temer por unanimidade. O prefeito afirma que programas federais como Prouni, Pronatec e Fies serão mantidos, mas com mudanças.
“São programas importantes, mas é bom destacar que, de 2015 para cá, acabaram desacelerando em função das restrições orçamentárias. Sequer foram disponibilizadas vagas do Pronatec em parceria com a prefeitura este ano. Então, o desafio é reforçar, aperfeiçoar esses programas e pensar em políticas públicas para a educação no futuro”, avaliou.
Com a fusão da Educação com a Cultura, Neto espera também que obras tocadas pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional (Iphan), através do PAC das Cidades Históricas, sejam retomadas em Salvador com mais facilidade.
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