Ainda não há conclusão a respeito de quanto tempo dura o efeito imunizante (Foto: Reprodução)
A liberação de uso em caráter emergencial das vacinas Coronavac (Instituto Butantã/Sinovac) e Covishield (Fiocruz/Astrazeneza/Oxford) voltou a dividir opiniões da população brasileira: de um lado, os que veem o acontecimento como motivo de comemoração e esperança do fim da pandemia; do outro, os que preferem passar longe das vacinas e enxergam a liberação de uso como um risco grande demais.
Dos dois lados, há argumentos lógicos e razoáveis para preocupações.
Muitas mortes
Do lado de quem comemora, o principal argumento é a falta de opções medicamentosas para combater a Covid-19 e o número assustador de mortes. Na semana passada, o Brasil ultrapassou a triste marca dos 200 mil óbitos acumulados, sendo um dos países do mundo com mais vítimas fatais: só perde para Estados Unidos (397.566).
Para piorar, em meio a denúncias de corrupção e negligência, na mesma semana faltou oxigênio nos hospitais de Manaus (AM) levando inúmeros pacientes que estavam internados à morte por asfixia, o que, por sua vez, causou revolta e comoção nacional.
Nesse cenário, é claro que qualquer esperança é bem vinda, inclusive a Coronavac, que apresentou cerca de 50% de eficácia e se mostrou mais eficiente para atenuar a Covid, do que para prevenir a doença. No entanto, os críticos da autorização de uso emergencial das vacinas também tem seus pontos de argumentação lógica.
Poucas certezas
O mais importante deles é o fator tempo: nenhuma vacina, no mundo inteiro, foi considerada totalmente segura e eficaz com tão pouco tempo de pesquisas e isso tem um motivo. Uma das avaliações pelas quais as vacinas precisam passar tem o objetivo de definir a duração da resposta imunológica (quanto tempo a vacina protege) e a ocorrência de efeitos colaterais a médio e longo prazo.
De acordo com a apresentação da Coronavac, publicada pela Anvisa, só foram avaliados efeitos colaterais a curto prazo (7, 14 e 28 dias após a aplicação da primeira e segunda doses) e ainda não há conclusão a respeito de quanto tempo dura o efeito imunizante.
Tudo isso porque, na realidade, a Coronavac ainda está na fase 3 de testes, período em que são avaliadas essas e outras questões sobre as vacinas. De acordo com o supracitado documento, a fase 3, ou seja, estudo clínico em humanos, foi iniciada no dia 21 de julho de 2020 e os dados avaliados para liberação foram coletados até 16 de dezembro, totalizando apenas 5 meses e meio de testes.
Além disso, também não há nenhuma informação sobre o comportamento da vacina em crianças, gestantes e pessoas com doenças autoimunes, já que não houve estudos com esses grupos - motivo pelos quais nenhuma dessas pessoas poderá ser vacinada, por enquanto.
Em média, a fase 3 de estudos das vacinas demoram entre 5 e 10 anos. A vacina mais rápida produzida até hoje, dentro dos prazos normais de testes, foi a vacina contra o sarampo, que levou 04 anos para ficar pronta.
Sob vigilância
Apesar da liberação, o estudo segue. Na prática, é como se as 03 milhões de pessoas que receberão a vacina nessa primeira fase fossem novos voluntários da fase 3, já que eles deverão ser acompanhados pelo período de um ano e quaisquer ocorrências e novas descobertas deverão ser imediatamente comunicadas à Anvisa, que pode até alterar os parâmetros para vacinação, ou mesmo suspender a autorização.
"Tanto a Fiocruz quanto o Instituto Butantan devem dar continuidade aos estudos e à geração de dados para permitir o registro sanitário na Anvisa. Da mesma forma, ambos precisam manter o monitoramento da segurança das vacinas, fundamental para garantir que os benefícios continuem a superar os riscos para as pessoas que recebem vacinas contra Covid-19", esclarece a Anvisa, em nota sobre a autorização.
Quem não tem cão...
Há um ditado popular que diz "quem não tem cão, caça com gato". Essa parece ter sido a lógica utilizada pela equipe técnica da Anvisa para recomendar a aprovação do uso emergencial da Coronavac.
No relatório de apresentação do fármaco, após 60 páginas de informações sobre a evolução do estudo até a data de corte e todas as incertezas que ainda rondam o imunizante, eis a conclusão:
"Tendo em vista o cenário da pandemia;
Aumento do número de casos;
Ausência de alternativas terapêuticas;
A Gerência-Geral de Medicamentos recomenda a aprovação do uso emergencial,
condicionada ao monitoramento das incertezas e reavaliação periódica."
Aguardemos e oremos.
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