Desenvolver um kit para diagnóstico de leishmaniose cutânea e chegar a medicamentos mais eficazes no seu combate são dois dos principais focos da pesquisa desenvolvida com moradores do povoado Corte de Pedra, município de Presidente Tancredo Neves, a 238 km de Salvador, e de cidades vizinhas.
Com a notificação entre 700 mil a 1,2 milhão de casos por ano no mundo, a doença é causada pelos protozoários do gênero Leishmania e se caracteriza por feridas de diversos tipos e formas, afetando a saúde e a aparência das pessoas, prejudicando seu convívio social. A transmissão acontece através do mosquito-palha (flebótono), que é de difícil combate em áreas urbanas e rurais.
A pesquisa, iniciada em 2005, envolve cerca de 100 pacientes e é coordenada pelos professores Albert Schriefer, da Universidade Federal da Bahia (Ufba), e Luiz Henrique Guimarães, do Centro de Formação em Saúde da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB).
Os resultados já obtidos foram divulgados no artigo científico “Manifestações atípicas de leishmaniose cutânea em uma região endêmica de Leishmania braziliensis: Aspectos clínicos, imunológicos e parasitológicos”, publicado na revista Public Library of Science, da Califórnia (EUA).
Com uma média entre 2.500 a 3.000 novos casos por ano, a região sul da Bahia é líder nacional em notificações da doença, o que levou o médico Luiz Henrique Guimarães a iniciar o trabalho na região há 40 anos.
O atual estudo foi financiado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Doenças Tropicais (INCT-DT) e contou com a coordenação do professor Edgar Carvalho, nos campos de imunologia, parasitologia e na área clínica, conforme o professor Guimarães.
Negligência
Para ele, embora o Brasil seja um dos países lideres em números de casos, “a doença ainda é negligenciada, pois não há investimento da indústria farmacêutica para lançar novos medicamentos”.
Segundo Guimarães, “até agora só temos no Brasil medicamentos injetáveis, os mesmos usados há mais 60 anos, o que dificulta o tratamento para muitas pessoas que moram em lugares distantes. Os comprimidos, por exemplo, facilitam que o paciente siga o tratamento em sua casa”.
Ele destacou que já existem novas drogas no mercado mundial, usadas em diversas partes do mundo, mas não liberados pela Anvisa. O professor enfatizou ainda que na lista de doenças da Organização Mundial de Saúde (OMS) a leishmaniose cutânea é uma das 17 enfermidades cuja definição está ligada diretamente à pobreza.
Os exames para confirmação da doença ainda só acontecem em laboratórios de referência. “Nosso objetivo é desenvolver um kit que torne essa identificação da enfermidade mais rápida e acessível, que possa ser feito nos laboratórios que já existem nos municípios”, concluiu.
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