Taxista disse que se defendeu após jovem jogar lata de cerveja nele e no carro, mas negou agressões (Foto: Margarida Neide | Ag. A TARDE)
O taxista Antônio Ricardo Rodrigues Luz, 35 anos, suspeito de agredir a cantora Aiace Félix, da banda Sertanília, na madrugada de domingo, em frente à casa de shows Commons, no Rio Vermelho, foi preso na tarde desta segunda-feira, 4, em flagrante, após prestar depoimento na 7ª Delegacia Territorial (DT).
Ele será indiciado por tentativa de homicídio, lesão corporal e injúria, segundo o delegado substituto Antônio Fernando, que acompanha o caso. Nesta segunda, já à noite, Rodrigues Luz foi levado ao Instituto Médico Legal para fazer exame de corpo de delito e, em seguida, transferido para a 1ª DT dos Barris.
Nesta terça, 5, ele participa de audiência de custódia, onde a Justiça decidirá se a prisão temporária será revertida para preventiva ou ele se responderá o processo em liberdade. Para o delegado, a segunda opção é mais provável, pois o taxista não tem antecedente criminal.
Ele passou quase 11 horas, prestando depoimento nesta segunda. Chegou por volta das 9h30 e só foi transferido às 19h55. Na oitiva, ele afirmou que foi agredido por Aiace com uma lata de cerveja após "cantar" a irmã da cantora. Antônio negou, porém, que a tenha agredido, como afirmaram pelo menos três testemunhas que presenciaram o fato.
"Eu apenas estava me defendendo. Ela me agrediu jogando um copo de cerveja no meu rosto e no meu carro. Não mexi com a irmã dela em momento algum. Eu estava com o vidro do carro fechado. Não dei ré com o carro em cima dela em momento algum", disse ele, ao deixar a delegacia.
A versão é diferente da de Aiace. Segundo a cantora, o taxista jogou o carro, um Prisma, em cima dela, da irmã e de uma amiga após ela o repreender por causa de uma "cantada" agressiva.
Depois, saiu do carro e a esmurrou. Por causa das agressões, Aiace teve uma lesão na córnea. "Tenho 1,56m de altura, menos de 50 quilos e imagine que eu fui agredida por um brutamontes. Isso não pode ficar impune. Sofremos isso todo dia. É um absurdo as mulheres terem que gritar por respeito", disse.
Apuração
Os advogados do taxista, Marcel Ferraz e Rafle Salume, afirmaram que os depoimentos mostram "equívocos" na versão da vítima. "Não podemos tirar conclusão por depoimentos parciais nem condenar pelo clamor social", disse Salume.
Para esclarecer o caso, o delegado solicitou a busca por imagens de câmeras de segurança na região. Ele acredita, porém, que o crime está provado pelos depoimentos colhidos.
A prisão em flagrante, nesta segunda, foi possível, conforme ele, porque equipes da unidade estavam à procura do suspeito desde a denúncia. Ele foi identificado após a Gerência de Táxi da Transalvador (Getaxi) localizar a dona do veículo e do alvará que o taxista alugava.
Identificada como Edinalva, ela não quis dar entrevista. Revelou, no entanto, que não alugou o carro para Antônio Ricardo, mas para outro taxista, que emprestou o veículo ao homem para ele trabalhar no turno oposto.
Conforme a Secretaria Municipal de Mobilidade, um processo aberto para apurar o caso pode resultar no cancelamento do alvará.
Atendimento da Deam violou norma federal que rege atuação
O atendimento recebido pela cantora Aiace Félix, 27, na Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) desrespeitou uma norma federal que norteia a atuação das unidades policiais dedicadas a combater a violência contra a mulher.
Segundo a vítima, ao chegar à Deam de Brotas, agentes disseram que ela não podia prestar queixa, pois o agressor não era companheiro dela. Aiace conta que foi orientada a voltar à 7ª DT, no Rio Vermelho, onde fez o boletim de ocorrência.
“Esbarrei na burocracia. Aquelas pessoas estavam seguindo ordens e eu não as culpo”, disse a cantora.
A promotora de justiça Lívia Vaz, coordenadora do Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher e da População LGBT (Gedem), afirma, no entanto, que a conduta fere a Norma Técnica de Padronização das Deams, documento atualizado em 2010 pelas secretarias nacionais de Políticas para Mulheres da Presidência da República (SPM) e de Segurança Pública do Ministério da Justiça (SSP-MJ).
“A Deam é especializada na Lei Maria da Penha e essa lei trata de violência de gênero, e não só de violência doméstica”, explicou.
A mesma opinião tem a titular da Secretaria estadual de Políticas para Mulheres (SPM), Olívia Santana, que ligou ontem para a delegada titular da Deam Brotas, Heleneci Nascimento, buscando esclarecimento sobre o que classificou como “atendimento estranho”.
A delegada, no entanto, estava afastada e só retorna nesta terça ao posto na unidade.
Para a secretária Olívia Santana e a promotora Lívia Vaz, qualquer delegacia deve registrar as ocorrências de violência de gênero, independente do autor, e, posteriormente, encaminhar à unidade responsável.
“Isso não pode se repetir, porque é uma segunda vitimização dessa mulher”, afirmou a secretária.
A Polícia Civil informou, por meio da assessoria de comunicação, que orienta os agentes a agirem conforme a norma e prometeu investigar as circunstâncias do atendimento recebido pela cantora.
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