Se haverá nova live pós‑intimação, ainda não se sabe - Divulgação
O cenário político brasileiro às vezes tem cenas que superam roteiros de novela. Uma delas aconteceu nesta quarta‑feira (23), em uma trama que mistura bisturi, wi‑fi hospitalar e processo criminal. Um oficial de justiça do Supremo Tribunal Federal (STF) apareceu na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital DF Star, em Brasília, para entregar pessoalmente a intimação ao ex‑presidente Jair Bolsonaro — réu por participação no plano de golpe que tentava impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.
O timing chamou atenção: a visita do tribunal ocorreu menos de 24 horas depois de Bolsonaro, supostamente convalescente de uma cirurgia intestinal, entrar ao vivo pelas redes sociais em plena UTI, transformando o espaço em estúdio espetaculoso de opinião política.
Bolsonaro está internado desde o dia 11 de abril, coincidentemente um dia após o STF iniciar a intimação dos acusados. Até então, os ministros aguardavam “condições clínicas adequadas” para formalizar a abertura da ação penal. A paciência, porém, evaporou tão logo o ex‑presidente mostrou disposição suficiente para fazer lives, dar entrevistas a TV, comentar futebol e relembrar feitos de governo — tudo entre monitores cardíacos e aparelhos de oxigênio. Se há fôlego para streaming, concluiu o STF, há fôlego para receber oficial.
A intimação encerra a primeira etapa do processo que, no jargão jurídico, apenas “comunica” ao réu que ele passa a responder a crimes como tentativa de golpe de Estado, organização criminosa armada e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. São acusações cujas penas somadas podem ultrapassar 30 anos de prisão. Começa agora a fase de instrução: defesa indica testemunhas, pede perícias, revisita provas e, provavelmente, prepara nova bateria de lives — quem sabe direto de algum consultório.
Acostumado à espetacularização, Bolsonaro tentou constranger a oficial de justiça, reclamou do processo jurídico, fez menção às eleições de 2026 e chorou pitangas por mais prazo. Ao final de 11 minutos de um vídeo que, mais tarde, foi publicado em seu perfil no X, assinou o documento.
Em resposta, a deputada federal (Psol) Érica Hilton comentou: “Se ele aguenta fazer live, dar entrevista pra TV e receber visita do Valdemar Costa Neto dentro do hospital, ele aguenta uma visitinha surpresa da Oficial de Justiça. E que pare de mimimi”.
O episódio resume a coreografia desta crise: o STF pisa em ovos para não ser acusado de crueldade, enquanto o paciente transforma cada passo clínico em palco político. Se haverá nova live pós‑intimação, ainda não se sabe. Mas, ao que tudo indica, o judiciário já aprendeu: na próxima internação transmitida em tempo real, logo bate à porta.
Clique aqui e siga-nos no Facebook
< Anterior | Próximo > |
---|