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Recrudescimento da sífilis é motivado pela exposição sexual sem uso de preservativo (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)Recrudescimento da sífilis é motivado pela exposição sexual sem uso de preservativo (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

Uma infecção bacteriana sexualmente transmissível, a sífilis tem preocupado entidades de saúde de todo o mundo devido ao aumento de casos observado na última década. No Brasil, os últimos dados divulgados pelo Ministério da Saúde mostram um crescimento de 23% na taxa de detecção entre 2021 e 2022, passando de 80,7 casos por 100 mil habitantes para 99,2/100 mil.

Para o coordenador do Laboratório de Pesquisa em Infectologia do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes/Ebserh) da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Carlos Brites, o recrudescimento da sífilis é motivado pela exposição sexual sem proteção. Com o avanço na prevenção do HIV/Aids e também no tratamento, mudando a percepção de risco sobre a doença, muitas pessoas têm ficado menos atentas ao uso da camisinha. Vale lembrar que o contágio pode ocorrer também por sexo oral.

“Mesmo quem tem múltiplas exposições toma a PrEP e se sente tranquilo em relação ao HIV, mas por outro lado acaba negligenciando a questão da proteção para outras infecções”, alerta o médico. Conforme explica, atualmente, o perfil mais comum entre os pacientes com sífilis é de homens jovens que fazem sexo com homens. No Brasil, acrescenta, os casos estão mais concentrados nas regiões Sul e Sudeste.

Indolor

A transmissão da bactéria Treponema pallidum, causadora da sífilis, ainda é facilitada pelas características da doença na sua primeira fase. Embora uma ferida apareça, a lesão pode estar dentro da vagina ou do reto e como é indolor não ser notada. “A pessoa pode achar que é um processo inflamatório, uma feridinha porque coçou, alguma coisa assim, e não liga. Ela vai se resolver espontaneamente, sem tratamento, mas a infecção vai persistir e a bactéria vai continuar circulando”, completa o infectologista.

Após a etapa aguda e autolimitada, o treponema fica em estado de latência até que volte a se manifestar, iniciando a segunda fase da sífilis. Nesse estágio os sintomas consistem no surgimento de lesões, geralmente avermelhadas, em várias partes do corpo, incluindo os pés e as mãos, o aspecto delas pode ser descamativo ou pruriginoso. O paciente pode apresentar febre, além de um rebaixamento do estado geral de saúde. “Já atendi pacientes que a gente teve diagnóstico inicial de sepse (infecção generalizada) e era uma sífilis”, comenta Brites.

O diagnóstico geralmente acontece na segunda fase, quando a doença se apresenta de forma mais ostensiva, e é feito por exame de sangue no qual será verificada a presença da bactéria causadora da sífilis. Chamado de VDRL (sigla de Venereal Disease Research Laboratory - Estudo Laboratorial de Doenças Venéreas), o teste não é exclusivo para a doença, mas tem boa sensibilidade na detecção do treponema. Se for necessário fazer uma confirmação do diagnóstico, exames específicos serão realizados.

Se a doença for diagnosticada nas duas primeiras fases, o tratamento para a cura da infecção se resume a três aplicações de Benzetacil (benzilpenicilina benzatina) com intervalo de uma semana entre elas. Se a sífilis não for identificada e tratada até esse estágio, há risco de chegar à terceira fase, algo relativamente raro. Nessa etapa, ocorre acometimento do sistema nervoso central, com presença da bactéria no cérebro, órgão no qual a benzilpenicilina não consegue penetrar.

“Quando há sintomas clínicos sugestivos, você tem que fazer tomografia, ressonância ou exame de líquor, para ver se você tem anticorpos no sistema nervoso”, esclarece o médico. Perdas de sensibilidade e de propriocepção (capacidade de reconhecer a localização espacial do próprio corpo, posição e orientação), além de perda da acomodação da pupila - que deixa de se dilatar em ambientes escuros – são algumas manifestações desse estágio.

Para eliminar a bactéria do sistema nervoso central, o paciente tem de receber antibióticos por via venosa diariamente, ao longo de 10 a 14 dias. Na versão mais convencional do tratamento, há necessidade de hospitalização para que esses medicamentos sejam aplicados de quatro em quatro horas.“Hoje você pode usar outros medicamentos que são dose única diária, mas ainda não estão definitivamente padronizados como opção inicial”.Embora óbitos relacionados à sífilis sejam raros, há risco quando a doença evolui por muitos anos sem receber tratamento.

Uso da camisinha é vital para prevenir ISTs

Diretora do Hospital São Rafael Rede D'Or e infectologista, Ana Verena Mendes conta que ela e outros profissionais da sua especialidade percebem em seus consultórios o quanto mulheres com parceiros fixos abrem mão de usar o preservativo. A medida tanto aumenta o risco de contrair sífilis quanto outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), uma gama de patologias com impactos diversos na saúde de homens e mulheres.

Embora HIV/Aids seja a infecção que recebe mais atenção da população sexualmente ativa, o HPV e as hepatites, por exemplo, podem provocar quadros graves e não são evitadas pela PrEP - profilaxia pré-exposição para HIV/Aids.

No caso do HPV há vacina disponível pelo SUS (Sistema Único de Saúde) para para meninos e meninas entre nove e 14 anos, e para grupos com condições clínicas especiais até os 45 anos mediante apresentação de prescrição médica indicando ser pessoa vivendo com HIV/Aids, transplantada de órgãos sólidos ou medula óssea ou paciente oncológico.

Vacinação

No entanto, lembra a médica, a vacinação tem procura abaixo do necessário, especialmente diante do papel preventivo do câncer de colo de útero, do qual o HPV é precursor. “Para o HPV, a vacina é muito importante porque às vezes o uso do preservativo não é suficiente para prevenção, porque às vezes existem lesões contaminantes fora da área genital específica”, reforça.

A vacina para hepatite B também integra o Programa Nacional de Imunização, enquanto a hepatite C – infecção de evolução silenciosa capaz de provocar cirrose e outros danos ao fígado – não pode ser prevenida por vacinação.

Pré-natal adequado pode evitar que bebês nasçam com a doença

A possibilidade da presença não diagnosticada da bactéria causadora da sífilis no organismo torna fundamental que gestantes sejam testadas no decorrer da gravidez para evitar que bebês nasçam com a doença. Entre 2020 e 2021, o Brasil teve um aumento de 16,7% na taxa de incidência da sífilis congênita, o que o Ministério da Saúde (MS) atribui ao impacto das restrições decorrentes da pandemia na assistência pré-natal.

Atualmente, o acompanhamento pré-natal inclui a testagem no início da gestação e no 3º trimestre, sendo recomendado repetir o exame quando a mulher é internada para a realização do parto. Em 2021, o percentual de tratamento adequado da sífilis na gestação foi de 81,4%; mas a cobertura necessária para a eliminação da sífilis congênita é de 95%, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (Opas/OMS).

Referindo-se à sífilis em geral, seja adquirida ou congênita, a diretora do Hospital São Rafael Rede D'Or, Ana Verena Mendes, ressalta a concentração dos casos em todo mundo, especialmente até 2020, na faixa etária entre 20 e 35 anos. “Isso abriu um grande flanco para mulheres em idade reprodutiva e consequentemente para uma tendência de acréscimo que foi diferente das décadas anteriores em relação ao risco de sífilis congênita”, comenta.

Exames

Para a infectologista, os exames durante a gravidez são essenciais para evitar a sífilis congênita, mas devemos buscar uma detecção ainda mais precoce. “O ideal seria detectar na mulher em idade reprodutiva, nos exames preventivos dela, e fortalecer a prevenção com o uso de preservativo”, defende. Outra medida destacada por ela e já prevista pelo MS é a testagem dos recém-nascidos ainda na maternidade.

 

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