Impedida pela Justiça de São Paulo de ver ou ter contato com sua filha desde junho de 2012, quando foi presa pela Polícia Civil ao confessar ter matado e esquartejado o marido, Elize Matsunaga decidiu escrever uma carta para a menina antes de ser levada a júri popular pelo crime, nesta segunda-feira (28).
Redigida por Elize em 8 de março deste ano no presídio de Tremembé, interior do estado de São Paulo, a bacharel em direito declara que se pudesse olhar para a filha, diria “te amo” e gostaria de ouvir dela a palavra “mãe”. O texto foi escrito em uma folha de caderno rosa ilustrada com a personagem Jolie.
O site G1 teve acesso com exclusividade ao manuscrito, que traz o carimbo da unidade prisional atesta que foi lido por funcionários da penitenciária e teve autorização para sair de lá. A intenção de Elize com a divulgação da carta pela reportagem é de que sua filha possa saber, no futuro, o que a mãe pensava e gostaria de dizer à menina antes de ser julgada pelo assassinato do pai dela, o empresário Marcos Kitano Matsunaga. A menina tinha 1 ano na época do crime. Hoje, está com 5 anos e vive com os avós paternos.
“Mesmo não estando ao seu lado agora filha, quero que saiba que você tem uma mãe que te ama muito, não só no plano físico, e que respeitará suas escolhas e um dia, se você quiser, conversaremos sobre tudo o que houve, a situação lamentável e infelizmente irrevercível [sic] que nos afastou fisicamente, apenas fisicamente, pois meu coração está contigo, com a criança que me ensinou verdadeiramente o que é amor”, escreveu Elize em um dos trechos.
Confira o texto da carta na íntegra:
"8 de março de 2016
À minha amada filha (*) ...
Daqui exatos 38 dias você fará 05 aninhos. Imagino quantas descobertas você fez nesse tempo, quantas palavras aprendeu, quantos desafios enfrentou e venceu, mesmo tão pequena e tão frágil.
(*) era a mulher mais linda de Esparta, e você, com certeza é a mais linda dessa época, imagino agora como está seu rostinho, seu sorriso... Mágico... daqueles que nos faz bater a poeira e esquecer as feridas.
Hoje faz 03 anos, 09 meses e 04 dias que não a vejo filha querida, mas todos os dias te envio por pensamento todo amor que uma mãe pode sentir e todo pedido de perdão. Desejo que você se torne uma mulher incrível e forte. Aliás, não só desejo como tenho certeza que você irá superar todas as experiências difíceis.
Se eu pudesse te dizer algo hoje, olhando p/ você, eu diria: - Te amo de uma forma que nunca imaginei amar, incondicionalmente e te agradeço por me mostrar o que é isso. Diria que você mudou minha vida, trouxe luz, conforto no coração, a certeza de que Deus existe.
Enfrentaria qualquer coisa para ver seu sorriso, para te ver em paz, para ouvir pelo mesmo 01 vez a palavra mãe, tão curta, mas faz meu coração tremer.
Como há tempo para tudo, procurei o tempo para minhas palavras serem eternas e encontrei aqui. Sei que esse papel não é capaz de transmitir o que eu sinto de forma plena, mas toda energia que posso enviar com ele está aqui.
Mesmo não estando ao seu lado agora filha, quero que saiba que você tem uma mãe que te ama muito, não só no plano físico, e que respeitará suas escolhas e um dia, se você quiser, conversaremos sobre tudo o que houve, a situação lamentável e infelizmente irrevercível que nos afastou fisicamente, apenas fisicamente, pois meu coração está contigo, com a criança que me ensinou verdadeiramente o que é amor.
Mesmo que você não me perdoe filha querida, não esqueça que te amarei além da vida. Porque esse amor não vem dos olhos, vem de Deus.
Sua mãe, Elize"
* para preservar o nome da criança, usamos um asterisco
Entenda o caso
Elize Matsunaga, que confessou ter matado e esquartejado o marido Marcos Matsunaga, diretor executivo da Yoki, em 2012, será julgada a partir desta segunda-feira (28), em São Paulo. Ela é acusada de homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver. O júri pode levar cinco dias.
Marcos Matsunaga foi morto e esquartejado no dia 19 de maio de 2012, aos 42 anos. Ele era sócio da empresa alimentícia Yoki. Elize, que tem quase 35 anos, está presa na penitenciária de Tremembé, no interior de São Paulo.
De acordo com Elize, o esquartejamento ocorreu no quarto de hóspedes da cobertura do prédio onde o casal morava com a filha na capital paulista. Após cortar o corpo, os pedaços foram colocados em três malas, jogadas em Cotia, na Grande São Paulo.
As partes foram encontradas sem as malas, embaladas em sacos plásticos. Elize também é acusada de ocultação de cadáver, por ter abandonado os membros, o tronco e a cabeça do marido em pontos diferentes da Estrada dos Pires, na Grande São Paulo.
Detetive particular
Elize contratou um detetive particular para investigar se o executivo a traía. Policiais informaram que o profissional seguiu o executivo durante três dias e comprovou a infidelidade dele. Fotos e relatórios sobre três supostas amantes foram enviadas para ela. No computador da vítima, peritos da Polícia Técnico Científica identificaram acessos a sites de prostituição.
No período em que Marcos era seguido pelo detetive, Elize viajava com a filha para o Paraná. O detetive contratado por Elize Matsunaga disse durante depoimento que só contou a ela sobre a traição do marido, registrada pelo profissional em vídeo, quando Marcos Matsunaga já estava morto.
Traição
Em um depoimento, a suposta amante de Marcos disse, na época, que o primeiro encontro com o executivo aconteceu em 13 de fevereiro de 2012 e que se encontrava com ele duas vezes por semana. Pelos serviços de acompanhante, ela recebia R$ 4 mil por mês.
Ela contou à polícia que viajou com Marcos para a cidade de Marília, no interior de São Paulo, para conhecer a fábrica da Yoki. Em uma outra viagem, foram para Montevidéu, no Uruguai.
Segundo a moça, Marcos dizia que seu casamento não estava bom, que brigava bastante. A mulher disse que o executivo fez um acordo: se ela tirasse as fotos do site de acompanhantes, ele pagaria R$ 27 mil por mês a ela.
Coleção de armas
O casal colecionava 33 armas e possuía cerca de 40 kg de munições, além de armas brancas. Vinte nove armas pertenciam a Marcos. A coleção foi apreendida pela Polícia Civil. Ela era guardada pelo empresário no apartamento onde morava.
Violência doméstica
Nascida em Chopinzinho, no Paraná, Elize conheceu Marcos quando era garota de programa. Após o nascimento da filha, ela sugeriu que o casal fizesse terapia para salvar o casamento. Vinte e cinco dias antes de cometer o crime, a bacharel havia telefonado para a Polícia Militar (PM) para relatar que foi ameaçada pelo marido.
Sem poder comentar as ações sobre a filha de Elize porque estão sob segredo de Justiça, Juliana Santoro, advogada da ré, declarou que sua cliente é mais uma mulher vítima de violência doméstica que reagiu as agressões do marido e se defendeu dele. Por isso, entende que esse motivo não pode ser determinante para a Justiça afastá-la da filha.
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