Mesmo em uma casa dois dois adultos assalariados, a soma total de rendimentos não chega na metade do mínimo ideal (Foto: Reprodução)
Para quem ganha o mínimo, alimentação consome 52,93% da renda líquida. Enquanto isso, 10% mais ricos gastam só 8% — e o 1% mais rico, 3%.
O trabalhador baiano que recebe um salário mínimo (R$ 1.518) compromete mais da metade do que ganha apenas para pagar a comida básica do mês. Segundo dados do Dieese divulgados na sexta-feira (6), a cesta na capital baiana custava R$ 628,97 em maio. O valor é referente à alimentação mínima de um adulto, durante um mês.
Ainda segundo cálculos do Dieese, quando se considera o valor do salário mínimo menos o 7,5% da Previdência Social (R$ 1.404,15) a alimentação básica representa 52,93% da renda. Apesar de ser a segunda mais barata entre as 17 capitais capitais pesquisadas, ainda é pesada demais para a maioria da população..
Problema nacional
Além do valor da cesta básica, o Dieese também calcula o salário mínimo ideal, para sustentar uma família de dois adultos e duas crianças, incluindo gastos com alimentação (considerando que a alimentação das duas crianças, somada, seja igual a de um adulto), moradia, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social.
Nesse caso, o salário mínimo teria que ser R$ 7.528,56. Isso é 4,96 vezes o salário mínimo atual. Mesmo em uma casa dois dois adultos assalariados, a soma total de rendimentos não chega na metade do mínimo ideal.
Apesar de Salvador estar entre as capitais com menor custo da cesta, o problema é nacional. Em São Paulo, onde os alimentos custam mais caro, a cesta básica chegou a R$ 896,15 em maio. Isso equivale a 63,84% do salário líquido de quem ganha o mínimo. Já em Aracaju, onde o custo foi o menor do país (R$ 579,54), ainda assim a cesta consome 41,27% da renda líquida de um trabalhador assalariado. Em nenhum cenário, sobra muito.
Mas a desigualdade vai além. Os dados mais recentes do IBGE mostram que 40% dos brasileiros vivem com até R$ 601 por mês. No Nordeste, o valor médio dos mais pobres é ainda menor: R$ 408. A cesta básica de Salvador custa 1,54 vez essa média. Ou seja: essas pessoas não conseguem sequer pagar pela alimentação mínima.
Os 10% mais ricos do país recebem, em média, R$ 8.034 por mês. Para eles, a cesta representa só 7,8% da renda. No caso do 1% mais rico, com rendimento médio de R$ 21.767, o percentual cai para 2,8%.
A distância entre os dois extremos ainda é abissal: os 10% mais ricos ganham 13,4 vezes mais que os 40% mais pobres. Foi a menor diferença registrada desde 2012 — mas continua sendo um retrato de um país onde o essencial ainda é um luxo para milhões.
Adendo
Apesar de os dados do Dieese serem oficiais e seguirem uma metodologia científica e com base legal, eles são defasados, visto que a composição da cesta básica considerada pelo órgão é ultrapassada e não reflete sequer o previsto pelo governo federal no Guia Alimentar da População Brasileira.
O cálculo do Dieese leva em consideração a lista de itens definida no Decreto-Lei nº 399, de 1938, ainda vigente, mesmo após 87 anos. Essa cesta representa os alimentos considerados essenciais para o sustento mensal de um trabalhador adulto, com base no padrão alimentar da época e divide as necessidades básicas dos brasileiros por região.
Para a Região 2, que inclui todos os estados do Norte e Nordeste, a composição da cesta é a seguinte: 4,5 kg de carne bovina sem osso, 6 litros de leite, 4,5 kg de feijão, 3,6 kg de arroz, 3 kg de farinha, 6 kg de pão francês, 12 kg de tomate, 90 unidades de banana, 3 kg de açúcar, 750 g de gordura (óleo ou banha), 750 g de manteiga e 300 g de café.
Para as Região 1, 3 e Nacional, a tabela ainda inclui mais 1,5kg de carne e 3kg de batata. Não há informação do porque esse decreto considera que o nordestino e nortista precisa de bem menos carte e menos vegetais para viver bem.
O Guia Alimentar, por outro lado, recomenda ao menos 90 porções mensais de frutas e outras 90 de legumes e verduras, ambos variados. Além disso, enquanto o Guia orienta o consumo de até 20 litros de leite ao mês, a cesta básica prevê apenas 6 litros, quantidade considerada insuficiente para cobrir as três porções diárias recomendadas. A cesta do Dieese também não considera nenhum custo com itens indispensáveis usados para temperos, como hortaliças, cebola, alho e pimentão. No fim das contas, ou o custo real do trabalhador com alimentação consome uma parcela muito maior do seu salário, ou tem muita gente no Brasil vivendo próximo a situação de fome. Em 2023, o IBGE divulgou que quase 29% da população brasileira vivia com insegurança alimentar; o número era ainda pior quando considerados apenas os lares de pessoas pretas e negras: 69%. Não há dados mais atuais sobre o mapa da fome no Brasil.
Clique aqui e siga-nos no Facebook
< Anterior | Próximo > |
---|