Com menos recursos disponíveis mulheres precisam recorrer ao crédito para cobrir despesas essenciais (Foto: Reprodução)
Apesar dos avanços na inclusão financeira e no mercado de trabalho, as mulheres continuam enfrentando desafios econômicos maiores do que os homens. Com menor renda e maior responsabilidade sobre o sustento da família, elas recorrem mais ao crédito e acumulam mais dívidas. Ainda assim, são mais organizadas quando se trata de planejamento financeiro e renegociação de débitos.
Uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio (CNC) revelou que, embora o percentual de homens e mulheres endividados esteja próximo (cerca de 77% da população), o impacto da dívida sobre a população feminina é mais expressivo. Com menos recursos disponíveis, muitas mulheres precisam recorrer ao crédito para cobrir despesas essenciais.
“Historicamente e até hoje, existe uma diferença salarial entre homens e mulheres. Isso vem diminuindo ao longo do tempo, e tem todo um processo de maior independência feminina no mercado de trabalho”, afirmou o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, em entrevista à Agência Brasil. Segundo ele, essa diferença de renda faz com que muitas mulheres tenham que recorrer ao crédito para lidar com as despesas do dia a dia.
Chefas de família
A realidade é ainda mais desafiadora para aquelas que sustentam sozinhas suas famílias. Segundo um levantamento da Serasa, um terço dos lares brasileiros tem as mulheres como únicas responsáveis pelas despesas – um percentual que sobe para 43% entre as famílias de baixa renda. Além disso, a dificuldade de acesso ao crédito é uma barreira frequente, com oito em cada dez mulheres relatando já terem tido um pedido negado.
Merula Borges, especialista em finanças da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), ressalta que a dificuldade de conseguir crédito agrava ainda mais a situação financeira das mulheres. “A gente percebe, no empreendedorismo feminino, que as mulheres têm mais dificuldade de tomar crédito. Elas empreendem, de maneira informal, com mais frequência”, afirmou à Agência Brasil. Segundo ela, muitas mulheres recorrem à informalidade como forma de sustento, o que limita ainda mais suas possibilidades de acesso ao crédito formal.
Apesar desses obstáculos, o estudo da Serasa aponta que as mulheres demonstram mais preocupação com a organização financeira. Elas priorizam o pagamento de dívidas no planejamento do orçamento e buscam renegociar valores pendentes com mais frequência do que os homens. Para a especialista da Serasa, Tamires Castro, esse comportamento reflete o papel tradicionalmente assumido pelas mulheres na administração das finanças familiares. “As mulheres seguram a casa sozinhas, têm dupla jornada. Além disso, com todas as despesas que têm no dia a dia, para sustentar uma casa e os filhos. Mesmo assim, elas se preocupam em não ficar com valores em aberto, até para não ter dificuldade em solicitar crédito”, explicou.
O endividamento, no entanto, não está necessariamente ligado a gastos supérfluos. Grande parte das mulheres que recorrem ao crédito o faz para lidar com imprevistos ou manter as contas do dia a dia em ordem. Segundo a pesquisa da Serasa, 40% das mulheres entrevistadas afirmaram que priorizam o pagamento de dívidas na organização do orçamento familiar. Elas também fecham 25% mais acordos de renegociação do que os homens no Feirão Serasa Limpa Nome, que busca regularizar a situação dos inadimplentes.
Mesmo diante de um cenário econômico adverso, os dados mostram que as mulheres seguem comprometidas com a estabilidade financeira. O desafio, agora, é garantir condições mais justas de acesso ao crédito e reduzir as desigualdades que tornam sua jornada financeira mais difícil do que a dos homens.
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