Dona Simone Costa, de 61 anos (Foto: Rafaela Costa)
Enquanto governo e setor agropecuário apresentam propostas distintas para conter a alta dos preços, especialistas avaliam os impactos reais na vida das famílias brasileiras.
A inflação dos alimentos tem sido um dos maiores desafios para os brasileiros. Em 2024, o custo da alimentação subiu 8,23%, segundo o IBGE, pressionando o orçamento de milhões de famílias. Dona Simone Costa, de 61 anos, é um exemplo disso. Mãe de cinco filhos e avó de seis netos, ela viu o preço do arroz, do frango e da cenoura dispararem. Para economizar, substituiu o jantar tradicional por uma sopa, que “rende mais um pouquinho”.
Diante desse cenário, duas propostas ganham destaque: uma, defendida pelo Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), foca no fortalecimento da agricultura familiar. A outra, apresentada pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), prioriza a redução de custos de produção e o fortalecimento do agronegócio. Mas qual delas beneficia mais a população?
Agricultura familiar: comida saudável e preços acessíveis
O Consea defende que a solução para a inflação dos alimentos passa pelo fortalecimento da agricultura familiar. Em declaração à Agência Gov, Elisabetta Recine, presidenta do conselho, destacou que os pequenos produtores têm capacidade de reduzir os preços dos alimentos, pois estão presentes em todas as regiões do país, produzem de forma diversificada e não dependem do câmbio internacional.
Entre as medidas sugeridas estão a ampliação do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), a recomposição de estoques reguladores e o fomento à produção de alimentos da cesta básica. “Precisamos garantir terra, recursos e assistência técnica para os pequenos produtores”, afirmou Recine.
Benefícios:
- Redução dos preços dos alimentos em nível local.
- Fortalecimento das economias regionais.
- Priorização de alimentos saudáveis e acessíveis para comunidades periféricas.
Desafios:
- Medidas de longo prazo, que podem demorar a surtir efeito.
- Necessidade de investimentos significativos em políticas públicas.
Agronegócio: redução de custos e foco na exportação
Já a FPA, que representa os interesses do agronegócio, propõe medidas como a redução de tributos sobre fertilizantes e defensivos agrícolas, a desburocratização alfandegária e investimentos em infraestrutura logística. Em ofício enviado ao governo, o deputado Pedro Lupion (União-PR), presidente da FPA, afirmou que essas ações são urgentes para “garantir comida barata e de qualidade para a população, sem afetar as exportações”.
Benefícios:
- Redução imediata dos custos de produção.
- Aumento da eficiência logística, com potencial para baratear os preços.
- Manutenção do superávit da balança comercial.
Desafios:
- Priorização de grandes produtores, com risco de concentração de renda.
- Dependência do mercado externo, que pode impactar os preços internos.
Impactos na vida da população
As duas propostas têm potencial para reduzir os preços dos alimentos, mas os caminhos são diferentes. O foco na agricultura familiar, defendido pelo Consea, pode fortalecer economias locais e garantir alimentos mais acessíveis para as comunidades periféricas. No entanto, especialistas alertam que essas medidas podem demorar a surtir efeito, o que é preocupante para famílias que já enfrentam dificuldades imediatas.
Por outro lado, as medidas da FPA, como a redução de custos de produção e a desburocratização, podem ter efeitos mais rápidos, barateando os preços no mercado interno. No entanto, há o risco de que os benefícios não cheguem de forma equitativa a todos, já que o agronegócio prioriza grandes produtores e a exportação.
Qual caminho beneficia mais a população?
Especialistas ouvidos pela Agência Gov destacam que a solução ideal pode estar na combinação das duas abordagens. Renato Maluf, professor da UFRJ e ex-presidente do Consea, afirmou que é necessário adotar “medidas com efeitos imediatos sobre os preços, com ações que reflitam as diretrizes e prioridades da recém-lançada Política e Plano Nacional de Abastecimento Alimentar”.
Já Adriana Marcolino, conselheira do Consea e representante do DIEESE, reforçou a importância de fortalecer a produção nacional de alimentos. “Temos capacidade para produzir comida suficiente para toda a população. O desafio é garantir que ela chegue à mesa de todos, a preços justos”, disse ela.
Para Francisco Menezes, economista e ex-presidente do Consea, o agronegócio é importante, mas não pode ser a única solução. “A inflação dos alimentos afeta principalmente as famílias de baixa renda. Precisamos de políticas que garantam segurança alimentar para todos”, afirmou ele à Agência Gov.
Caminho do meio: é possível conciliar?
A inflação dos alimentos é um problema complexo, que exige soluções tanto de curto quanto de longo prazo. Enquanto o agronegócio pode trazer resultados mais imediatos, a agricultura familiar oferece uma base mais sustentável e inclusiva.
Para dona Simone e milhões de brasileiros, o importante é que o preço da feira volte a caber no orçamento da família. “A gente não pode ficar sem comer”, diz ela, enquanto prepara mais uma panela de sopa.
A resposta, portanto, pode estar na combinação dos dois caminhos: eficiência do agronegócio com a inclusão e sustentabilidade da agricultura familiar.
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