O Brasil chegou ao final de 2015 com o mesmo patamar de riquezas que tinha no fim de 2009, levando-se em conta o valor do Produto Interno Bruto (PIB) do país em dólares. No fim do ano passado, a economia brasileira valia US$ 1,77 trilhão, após ter perdido US$ 500 bilhões dos US$ 2,34 trilhões que tinha no fim de 2014, com base em dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). O resultado, que é influenciado pela cotação do dólar e é usado para comparações internacionais, foi o menor desde 2009, quando o somatório de riquezas do Brasil era de US$ 1,58 trilhão.
A economia brasileira foi impactada negativamente em 2015 pela redução no ritmo de gastos das famílias, empresas e até do próprio governo, segundo dados do PIB, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No caso das famílias, a insegurança em relação aos rumos do país levou o brasileiro a comprar menos produtos e serviços – a queda de 4% foi a primeira nos últimos 12 anos. No caso dos investimentos privados, a queda foi mais drástica, de 14,1%, e aconteceu pelo segundo ano . Até o governo, cujos gastos cresceram continuamente desde 2001, apresentou retração de 1%.
O menor ritmo do consumo da família, que era um dos sustentáculos da economia no país, pode ser explicado pela deterioração dos indicadores de inflação, juros, crédito, emprego e renda ao longo de todo o ano de 2015.
No geral, a economia brasileira encolheu 3,8% em 2015 e confirmou oficialmente o que já se percebe no dia a dia, principalmente nas taxas de desemprego: o país vive a maior recessão desde 1990, quando o PIB despencou 4,35% no governo de Fernando Collor. Dados do IBGE apontam que a crise econômica continuou se aprofundando no quarto trimestre do ano passado, período em que o PIB caiu 1,4% ante o trimestre anterior e 5,9% na comparação com o mesmo período de 2014.
A forte contração da economia está diretamente ligada à queda de 14,1% dos investimentos privados, chamados de formação bruta de capital fixo. É o maior recuo desde 1996, quando tem início a atual série histórica do IBGE. Segundo o instituto, os aportes despencaram no ano passado devido à queda da produção interna e da importação de bens de capital, com destaque para o desempenho negativo do setor de construção.
Desempenho dos setores
Dentre os setores, apenas a Agropecuária (1,8%) conseguiu encerrar o ano com expansão em 2015 – mesmo assim, foi o pior desempenho do setor desde 2012. No ano passado, a soja registrou crescimento de 11,9% em seu volume produzido, enquanto o milho avançou 7,3%.
Já a Indústria encolheu 6,2%, na maior queda da série histórica iniciada em 1996. No setor industrial, os recuos foram generalizados: construção sofreu contração de 7,6%, enquanto a Indústria de Transformação teve queda de 9,7%. O único destaque positivo foi o desempenho da extrativa mineral, que acumulou crescimento de 4,9%, devido à maior produção de minério e petróleo. A desvalorização do câmbio também contribuiu para elevar as exportações desses produtos.
Já o PIB do setor de Comércio e Serviços, além de ter a maior queda da série, teve o primeiro resultado negativo anual já registrado. Já dentre as atividades, o comércio sofreu queda de 8,9%, seguido por transporte, armazenagem e correio, que recuou 6,5%.
Queda no ranking
Levando-se em conta as estimativas do Fundo Monetário Internacional para o valor do PIB de 189 países, o PIB de US$ 1,77 trilhão fez o Brasil ser ultrapassado pela Índia e a Itália – passando a ser agora a nona maior economia do mundo. A conversão do valor do PIB para dólares é uma das medidas mais comuns para comparar o tamanho das várias economias do planeta.
A queda no PIB do Brasil é explicada pela contração da atividade e também pela desvalorização do real – o que torna a riqueza produzida em reais menor quando transformada em dólares. A conversão foi feita com base no dólar médio do ano divulgado pelo Banco Central
Em 2014, segundo dados do FMI, o PIB brasileiro em dólares somou US$ 2,34 trilhões e era o sétimo maior do mundo - atrás de Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, Reino Unido e França, respectivamente. Com o número apresentado nesta manhã e confirmadas as previsões do Fundo para as demais economias, o Brasil cai duas posições na lista de 2015 ao ser ultrapassado por Índia e Itália.
Há apenas cinco anos, em 2011, o Brasil chegou a alcançar o posto de sexta maior economia do mundo ao deixar o Reino Unido para trás. O título foi festejado em Brasília em um período em que as economias ricas como a britânica ainda tentavam se desvencilhar do pior momento da crise global.
No período, o Brasil despertou a admiração mundial pelo sucesso na condução da economia, o que resultou em crescimento do PIB, valorização do real e ascensão social. O governo chegou a pregar que o país poderia ser a quinta economia em 2020.
Retomada do crescimento passa por solução de crise política
Para representantes do setor produtivo na Bahia, o primeiro passo para a retomada do caminho do crescimento econômico está na busca de uma solução para a crise política no país. A percepção é de que o cenário de crise econômica é agravado pela indefinição em relação aos rumos do país.
“Quando há pessimismo, as pessoas não compram e o empresário não investe”, diz o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Salvador, Frutos Dias Neto. Ele diz que os números divulgados ontem eram esperados.
“A sensação que nós temos em nosso dia a dia é que a situação é ainda pior do que a que vem sendo divulgada”, destaca, lembrando que os números de 2015 não foram ainda piores porque o cenário no início do ano eram melhores que os iniciais. “Enquanto não houver uma solução para o problema político, teremos mais números ruins”, afirma.
O economista Marcus Verhine, superintendente de Desenvolvimento Industrial da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), acredita que o “pessimismo diante do cenário político agrava a crise”. Para ele, a insegurança, que leva as pessoas a não consumir, alimenta a crise. “Existe uma crise econômica, que se alimenta das incertezas políticas”, diz.
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