A construção do Centro de Convenções Municipal na área do antigo Aeroclube está causando polêmica tanto no meio político, quanto na população da capital baiana. O engenheiro civil, doutor em ciência e engenharia de materiais, Daniel Veras Ribeiro, especialista em corrosão e durabilidade das construções e coordenador do Laboratório de Ensaios em Durabilidade de Materiais (LEDMa), da UFBA, aponta algumas problemas que podem ocorrer como consequência da localização escolhida.
“Quando eu vi o projeto, fiquei surpreso. Aquela região da cidade onde o prédio deve ser construído é uma das mais agressivas da cidade. Todo mundo que mora perto sabe disso. O Centro de Convenções, onde funcionava, já não era um dos melhores locais por ser perto do mar”, analisou Daniel, que é autor do livro “Corrosão em estruturas de concreto armado”, obra que é uma das principais referências na área.
“Em vários lugares do mundo existem obras perto do mar, sem problema algum. Isso é verdade. Só que elas não têm as especificidades que o Brasil tem. Infelizmente, nós temos uma característica aqui de inaugurar obras públicas e não dar manutenção, principalmente se houver alteração no grupo político governante. Nesse molde que acontece aqui no país, em que os governantes inauguram uma obra e, cinco anos depois, o local está acabado”, acredita.
“Para um Centro de Convenções como aquele durar por muitos anos, nós temos que ter um projeto de durabilidade muito bem feito. É um projeto específico a ser feito. Uma obra como essa não pode ser projetada para menos de 60 ou 70 anos de durabilidade. Então, nós precisamos de um projeto assim. [...] Só vejo duas possibilidades: ou fazer um projeto de durabilidade bem feito, o que eu não acredito que será feito por encarecer a obra, ou fazer uma manutenção grande a cada cinco anos, o que seria um absurdo”, completa.
O secretário municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur), Guilherme Bellintani, não foi encontrado pela reportagem da Tribuna para comentar o caso. Em nota, a assessoria de imprensa do chefe da pasta informou que “o referido estudo indicado pelo professor Veras já está previsto na elaboração do projeto, tendo o município estudado e consultado diversos técnicos em materiais construtivos antes da decisão de execução do projeto”. “Por fim, ressalta-se que, conforme afirmado pelo próprio professor, a durabilidade do equipamento poderá ultrapassar cem anos, desde que planejado em razão das circunstâncias do local. O que não podemos é deixar a orla da cidade destinada a ser um grande deserto. Equipamentos públicos sem a devida manutenção, que resultem inclusive em desabamento, não podem ser referência para o futuro da cidade”, diz a nota.
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