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Antonio Franco Nogueira

Como me esquecer das vezes que tinha que voltar para procurar, por quilômetros, seu chinelinho que caíra pelos vários buracos do assoalho da velha Brasília 76 Como me esquecer das vezes que tinha que voltar para procurar, por quilômetros, seu chinelinho que caíra pelos vários buracos do assoalho da velha Brasília 76

Rememorando, pela passagem do dia...

Vira e mexe vemos nos noticiários, casos onde pai ou mãe – surpreendentemente mais mães do que pais – abandonam no lixo, nas matas, expostas a toda sorte de ataques de animais, seus filhos - algumas, quando mais conscientes, nas portas de casas alheias. Houve casos em que mães jogaram até em rios ou lagos seus rebentos recém-nascidos, e que, inexplicavelmente, sobreviveram, mesmo tendo ficado ali por horas. Ou, quem sabe por dias.

Há casos em que, por vezes, muitas das mães, salvo nos casos em que envolva insanidade, são induzidas pela fraqueza de espírito, levadas ao desespero pelo abandono sofrido pelo pai que recusou assim como ao filho também a elas.

Sempre tive - apesar de, como dizia meu saudoso ex-sogro, ' fetcho' e pregado errado -, uma boa relação com o Criador. Deus sempre entra com providencia na minha vida. Por mais que eu esperneasse, a direção sempre foi, é e será d'Ele. Foi d'Ele a decisão de não abandonar meus filhos, aqui, numa situação inversa, quando nos vimos, os três, sós, há mais de 30 anos. Eu apenas O obedeci.

Mais de três décadas depois um dos meus completa 35 anos. Hoje é o seu aniversário. E isto é uma homenagem.

Quero deixar bem claro, aqui, que vou me arvorar mas não sou nem um pouco bom nesse negocio de homenagens. Entretanto, como sou teimoso, vou me jogar em mais esta.

- Ainda mais quando o sujeito a ser homenageado é um filho. Na verdade a homenagem é para todos os filhos cujos pais, pela importância de cada um deles nas suas vidas, se sentem à vontade para vir à publico, parabenizá-los.

Posto isto, no geral, ninguém gosta de lembrar dos momentos duros que viveu na vida. Ainda mais em se tratando de uma celebração. Mas como não falar dos dias na barraca da velha e saudosa Orlinda, onde, enquanto eu trabalhava, você, com 1 ano e 9 meses, e seu irmão, então com apenas seis meses de vida, um frágil bebê, adoecia com o calor por passar o dia ali com a única alma que na época nos socorrera, dividindo o espaço diminuto, e o tempo, entre vocês dois, os choros, e as panelas da comida que tinha que servir ao meio-dia a seus clientes mas que só saia atrasada por conta disso e a troco de nada, só pela compaixão que tinha de nós três..

Como me esquecer das vezes que tinha que voltar para procurar, por quilômetros, seu chinelinho que caíra pelos vários buracos do assoalho da velha Brasília 76, que por vezes nos servia como casa..

Não dá pra esquecer de quando você, traquino, aos sete anos, abriu a geladeira no meio da madrugada, bebeu cachaça, entrou em coma, pôs em pânico as enfermeiras, toda à família, e desolou seu irmãozinho, então com cinco aninhos, hoje seu parceiro, porque pensara que você morreria!

Como não dividir com aqueles que hoje nos rodeiam, o dia em que, às onze horas da noite, num lugar cercado por lagos, logo chamando-se Vale dos Lagos, e com nove anos apenas, você fugiu do prédio, entrou e me fez entrar num pântano cheio de cobras sucuri enormes, - suas amigas, como dizia – para se esconder por que não queria entrar para dormir?

Como não lembrar, meu filho, da noite em que seu avô materno pôs um revolver à dois dedos do meu rosto, querendo me impedir de tirá-lo da sua casa, onde o levei para visitá-lo apenas, tendo que convencê-lo com o único argumento que ele conhecia, porque por nada neste mundo abriria mão de você, nem do seu irmão...

E a sua fabrica de doces? Como poderia deixar de citar o sossego perdido, com você, aos 10 anos, sempre nos meus ouvidos, dia e noite, pedindo que prestasse atenção 'no projeto' que, segundo você, iria enriquecê-lo...

Não. É impossível, tendo a relação que tenho com Deus, e sabedor que sei da Sua onisciência, esquecer ou desconsiderar que em tudo Ele esteve sempre no controle, e que por isto você está, ainda que hoje um pouco afastado por força das circunstâncias, há mais de 15 anos, a me carregar, tirando e pondo nessa cadeira-de-rodas.

Não. É impossível não agradecer a Deus por não ter me permitido abandoná-lo mesmo diante daquela luta, onde, agora, minhas pernas são seus braços.

Quão bom, meu amado filho, foi ser obediente às ordens do meu coração, que nada mais fez que falar por quem o criou, o Deus ÚNICO que creio existir.

Hoje garoto, não posso deixar de dizer, que ao lhe ver com esse entusiasmo sempre ascendente, com seu laptop nas suas investidas comerciais e de marketing, dando suporte ao trabalho que há muito, tanto quanto eu, você tem acreditado, me encho de orgulho; apesar das divergências, das intempéries em momentos; apesar da sua intensidade quando decide sobre algo e de suas mudanças repentina de planos; da sua inquietação, apesar de tudo. Acredite.

Queria também que soubesse que, contudo, me encanto ao vê-lo, desde sempre, cheio de ideias, de projetos, de planos. O que falo antes é só pra não deixar de ter do que reclamar, você sabe como é...

Desprezando suas faltas, para com você próprio e para com Deus, anseio ainda te falar o quanto me emociona quando te vejo abatido, ansioso, agoniado, por ter visto alguém com fome ou padecendo alguma dor. Querendo consertar o mundo - mas que, se vendo impotente, sofre.

Que bom guri, que não me inclui entre os pais que abandonaram seus filhos, repetindo, por ação do Onisciente. E único que pode Isto. A Quem continuo creditando a confiança que tenho n'Ele de que Ele ainda te atrairá a investir toda essa inteligência a serviço do Seu Reino Celestial. 

Enfim, hoje, seu moço, vejo que tudo valeu a pena. E por isso estou aqui a te dar os parabéns, Franco Filho, pelo seu aniversário, e também pelo seu coração.

AMO.

AQUI mais textos do autor.

Que bom guri, que não me inclui entre os pais que abandonaram seus filhos – no meu caso, repetindo, por ação do Onisciente. E único que pode Isto. Que bom guri, que não me inclui entre os pais que abandonaram seus filhos – no meu caso, repetindo, por ação do Onisciente. E único que pode Isto.

 

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