Fotos: Patrick Abreu
Poucos dias após a Prefeitura de Camaçari anunciar intervenções na estrutura física da UPA de Monte Gordo, moradoras da localidade entraram em contato com o Camaçari Fatos Fotos (CFF) para denunciar atos de negligência e maus tratos por parte da equipe que as atendeu no local.
Negligência
De acordo com os relatos, pacientes têm enfrentado situações constrangedoras e graves por conta do atendimento inadequado. Em um dos casos, uma senhora, J.S.J. (49), que precisava de cuidados para uma inflamação severa na coluna foi atendida com 'descaso'. Mesmo sem conseguir sequer ficar de pé, por causa das fortes dores, ela foi atendida e orientada a tomar Torsilax, medicamento que, segundo a bula, é indicado para condições reumáticas leves, não sendo apropriado para o estado crítico que a irmã apresentava, diz M.S.N. (45), que acompanhava a paciente.
De J.S.J., o médico não solicitou nenhum exame para verificar a causa das dores, tampouco às orientou procurar um especialista. Segundo a irmã da paciente, o receituário causou espanto até nas atendentes da farmácia que, ao saber da gravidade do quadro da paciente, se entreolhando teriam perguntado se quem prescreveu aquilo era "de fato um médico", e sugeriram que procurassem "um profissional mais qualificado".
A família, diante da gravidade da situação, buscou atendimento particular, sendo prescrito injeções mais fortes. Após a nova medicação, a paciente finalmente apresentou melhoras. Ainda de acordo com a familiar, ao ver o estado de dona J.S.J., a médica teria classificado o atendimento anterior como “um absurdo”, e dito que o médico unidade merecia "ter o registro cassado".
Falta de empatia
Outro caso envolveu uma paciente hipertensa, de iniciais L.C. (51), que necessitava de atendimento constante devido a crises de pressão alta. Após retornar diversas vezes à unidade, com crises hipertensivas, e sempre vomitando, ela teria sido constrangida por comentários feitos pela técnica que a atendeu, que teria questionado: "Você de novo?", insinuando que as idas frequentes dela à unidade já estavam incomodando. O que levou os filhos, apesar dos poucos recursos, a optar por levar a mãe à UPA de Arembepe, muito mais distante e destinada a outra comunidade, mas onde encontraram orientação e a medicação que enfim interrompeu as crises.
Outra pessoa que se queixa da unidade médica de Monte Gordo, a leitora de iniciais T.P.S (40), antes pondera que nesse PA há equipes que atendem bem, mas afirma que é preciso “dar sorte” se precisar de ajuda, para 'pegar' o plantão desses profissionais. "Não é só os equipamentos que tem que melhorar nesse 24 horas não. Lá tem muita gente boa, mas tem gente que deixa muito a desejar no trato com os pacientes, além da demora no atendimento e a falta de um aparelho de raio X", afirma ela, enquanto também exalta o atendimento que recebeu na UPA de Arembepe, para onde teve que levar seu pai, P.N.S. (75), com suspeita de pneumonia. "Se não é a UPA de Arembepe acho que painho tinha morrido", desabafa.
Mais uma vez, a comunidade de Monte Gordo tem optado por buscar atendimento em Arembepe, apesar da distância e da dificuldade com transporte.
Só reforma?
A denúncia surge dias após a Prefeitura divulgar uma vistoria na "UPA" de Monte Gordo que, segundo o poder público, problemas graves na estrutura física foram identificados, como infiltrações, buracos nos forros, escadas perigosas e lixeiras enferrujadas. O prefeito Luiz Caetano e a secretária de Saúde, Rosângela Almeida, afirmaram que estão estudando alternativas, como a reforma do prédio atual, a transferência para outro imóvel ou até a construção de uma nova unidade.
Contudo, as queixas dos moradores reforçam que os problemas vão além da estrutura física e sugerem mudanças dos técnicos que precise avaliar sua capacidade profissional e humanitária, que atua na unidade. "Não adianta reformar o prédio se o atendimento continuar assim. A gente só vai no 24 horas porque não tem outra escolha, mas sai pior do que entrou", desabafou a irmã de dona J.S.J., que sofria uma forte dor de coluna e teve receitado Torsilax, no dia 02/1/25, às 19 horas.
Função da UPA
Embora não tenha sido relatado por nenhuma das vítimas do mal atendimento, vale destacar outro fato implícito em todos os relatos: a falta de orientação e encaminhamento, para tratamento contínuo e prevenção do retorno à unidade.
Tanto as UPAs quanto os PAs são unidades de média complexidade, cuja função é atender e solucionar urgências e emergências. Não é um espaço para tratamento continuado nem para acompanhamento do paciente, que deve ser feito nas Unidades de Saúde da Família (USF) ou nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), mais conhecidas como postinhos.
A função da UPA e do PA é estabilizar o paciente e solucionar a urgência ou emergência, evitando o agravamento da situação e agindo para restaurar o mais rápido possível o bem estar do paciente, encaminhando o caso para um hospital, quando não puder ser resolvido ali. Ou seja, em algumas situações, a UPA vai tratar o sintoma, não a causa, como no caso das duas senhoras, que claramente precisariam investigar mais a fundo a origem das disfunções.
No entanto, os pacientes não têm obrigação nem conhecimento técnico para saber disso. Se o médico passa um remédio, mas não explica que a pessoa precisa buscar o postinho para fazer exames e receber um diagnóstico, assim que o efeito daquela medicação passar ela vai retornar à UPA, como ocorreu com L.C., com repetidas crises de hipertensão. Se a equipe identifica que o caso precisa de um acompanhamento continuado para restabelecer definitivamente a saúde da pessoa, mas não passa as orientações necessárias, está sendo igualmente negligente e agindo com descaso.
Em uma gestão humanizada, como o prefeito Caetano (PT) tem prometido implementar na cidade, inclusive com a construção de três UPAs, uma delas também em Monte Gordo, isso durante a campanha, com a 'assinatura' do governador Jerônimo Rodrigues (PT), não pode haver espaço para casos como os relatados.
O CFF resolveu por omitir os dados pessoais dos personagens envolvidos, por razões óbvias, mas, com a concordância dos ofendidos, estarão à disposição das autoridades competentes, caso se faça necessário.
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