Cardozo visitou A TARDE, onde deu entrevista exclusiva (Foto: Luciano da Matta/Ag. A Tarde)
Num momento em que o Partido dos Trabalhadores discute a antecipação da escolha de seu novo comando, prevista anteriormente para 2017, o ex-ministro da Justiça e ex-advogado Geral da União José Eduardo Cardozo, disse, nesta sexta-feira, 14, em Salvador, que o PT precisa fazer “uma profunda reflexão” para superar a “síndrome de partido tradicional”, que o distanciou da militância e das bases.
Ele também criticou a postura de “imposição hegemônica” do partido, que culminou com o seu afastamento de outras forças de centro esquerda. Fato que explicaria, em parte, o resultado das eleições deste ano, quando o partido saiu menor das urnas.
Responsável pela defesa da ex-presidente Dilma Rousseff no processo de impeachment, Cardozo participou, na capital baiana, de “ato em defesa da democracia, contra o golpe à Constituição”, na Faculdade de Direito da Ufba.
Na avaliação do jurista, o PT “dialoga mal” com a juventude e com setores médios da sociedade, e se transformou num partido que disputa eleições, mas se esqueceu de discutir políticas públicas ao longo do processo.
“Nós perdemos. Nós voltamos nossos quadros para os governos, fazemos discussões nos governos e não discutimos no partido. A instância partidária foi esvaziada em conteúdo e significado político, passando a ser uma agregação de disputa de poder voltado a mandar”, criticou o ministro.
Indagado se o partido tem condições de se reerguer sem ter no comando o seu principal líder, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Cardozo disse que o PT não foi construído em torno de uma única liderança.
“Lula foi uma liderança que sobressaiu dentro do PT, mas não temos que submeter o partido à tutela de uma liderança. Tem que ter lideranças como o Lula, que nasceram de um conjunto de somatório de forças políticas e que são expressão de um certo momento da nossa ação”.
Lembrado, ao lado do ex-ministro e ex-governador Jaques Wagner e do senador Lindberg Farias (PT-TJ), como um dos nomes para suceder Rui Falcão na presidência do partido, Cardozo, que já foi secretário-geral do PT, negou interesse em disputar.
Sobre o processo de impeachment, o advogado de Dilma disse que os pretextos para o afastamento da ex-presidente foram “ridículos” e “infantis”. Afirmou que está aguardando o Supremo Tribunal Federal (STF) julgar o recurso em que pede a anulação do processo no Senado.
“Muitos dos ministros já se manifestaram contra uma eventual anulação. Vamos aguardar”, afirmou o jurista, que retomará as suas funções como procurador de carreira na prefeitura de São Paulo. Ele informou, ainda, que poderá recorrer a tribunais internacionais, como última alternativa para tentar reverter o “injusto e inconstitucional” afastamento da ex-presidente.
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