Bule Bule usa as redes sociais para mostrar seu trabalho (Foto: Xando Pereira | Ag. A TARDE)
Bule Bule não se cansa de se admirar com as facilidades século 21. "Antes eu mandava um recado e só sabia a resposta quando o menino voltava", lembra. "Agora eu converso com uma menina de Piritiba que fala comigo lá da Rússia! Então a internet é uma mudernage do bem", percebe.
Não só, Bule, mas isso não vem ao caso. O importante é o bem que se faz com ela. Como a campanha de crowdfunding (ou financiamento coletivo) que este mestre baiano da cultura popular está fazendo, para bancar o show de comemoração dos seus 50 anos de carreira e 70 anos de vida.
Intitulado Antonio 70, Bule Bule 50, sendo Antonio Ribeiro seu nome de batismo, o show está previsto para ser realizado no dia em que ele completa 70 primaveras: 22 de outubro, no Teatro Cidade do Saber, lá mesmo em Camaçari.
Filho de Bule, o publicitário Paulo Azevedo e seus sócios, Saulo Sancio e Tom Silva, são os responsáveis pela campanha, que pretende arrecadar o bastante para gravar o show e transforma-lo em CD e DVD ao vivo. "A proposta (da campanha) é inserir Bule Bule nesta nova realidade", diz Tom.
"Fora que aniversário pede presente, né?", acrescenta Bule, cheio de planos. "Quero trazer convidados, como Xangai, Maciel Mello, Adiel Luna (cantadores pernambucanos) e outros. Mas para abrir essa porta tem que ter o dinheiro".
Opção muito buscada por artistas e empreendedores para financiar seus projetos, o crowdfunding já deu certo para muita gente (não para todos) – e tem sido uma alternativa para aqueles que preferem se manter longe da política pública dos editais, como Bule Bule.
"Quem decide sobre projetos culturais geralmente é quem menos entende de cultura. Não entendem nada de cultura de raiz", afirma.
Live no Face e no Insta
Bule Bule está animado, embalado pela boa receptividade de seu último livro, Rodolfo Coelho Cavalcante, Castro Alves e Outros Temas de Cordel (Independente, 100 páginas, R$ 25), lançado na Flipelô há poucos dias. "Tudo o que acontece este ano tem relevância pra mim, como este livro, que aliás está nos pacotes de recompensa da campanha", lembra.
O baiano Rodolfo Coelho (1919 - 1987), homenageado no livro, foi um dos principais cordelistas brasileiros, incentivador de Bule Bule em início de carreira e o tema principal deste, que é apenas o seu quinto livro. Em compensação, já publicou mais de 100 cordeis (e escreveu o dobro disso) e tem oito álbuns gravados.
"Nesses 50 anos, apesar de ter produzido tanto, eu produzi muito pouco", afirma.
"Mas ainda me sinto começando. A empolgação é a mesma desde o início. Só a força física diminui um pouco", diz.
Em outubro de 2016, Bule superou o momento mais difícil de sua vida, ao passar por um transplante de rim.
"Fiquei sete anos e meio na hemodiálise. Não conseguia fazer xixi, meu rim murchou. Quem nunca passou por isso, peça a Deus para não passar", conta, sem conseguir esconder a emoção. Tom corre ao banheiro e lhe traz um papel toalha para enxugar os olhos.
"Agora tá tudo funcionando perfeito, minha creatinina (substância que indica saúde dos rins) é de criança. Corro o Brasil fazendo shows, outro dia voltei do Festival de Inverno de Garanhuns (PE)", conta.
"Inclusive, se você deixar, queria citar a equipe do Hospital Português que me tratou, os doutores Ernane Gusmão, Margarida Dutra, Rogério Passos, os enfermeiros, os técnicos, todo mundo", louva.
Focado na campanha de financiamento e no show dos 50 anos de carreira, Bule está, como foi dito ali no começo, encantado com a internet. "Cultura popular? O que tem de mais popular fazendo cultura hoje é a internet", afirma.
"Ontem mesmo eu tava fazendo um live (transmissão ao vivo) pelo Facebook e Instagram, com gente do mundo todo. E que as pessoas aprendam a botar seus poemas online, que o papel tá muito caro", conclui, aquela alegria nos olhos.
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