Diálogo. Créditos: Unsplash
Ninguém gosta de ter sua fala interrompida. Mas, no dia a dia, em conversas orgânicas — e especialmente se elas são animadas —, é comum que alguém "fale por cima" ou não entenda bem as pausas durante uma fala mais longa. Não é exatamente uma questão de falta de educação, e pode nem ser um comportamento deliberado.
Algumas vezes, no entanto, interrupções constantes tornam a situação desagradável. Como explicar esses momentos em que alguém interrompe sistematicamente a fala de outras pessoas de uma forma indelicada?
Para alguns pesquisadores, essa prática pode ter raízes comportamentais mais profundas.
A professora Maria Venetis, da escola de comunicação e informação da Universidade Estadual de Nova Jersey, nos Estados Unidos, especializada em saúde comunicacional, conta, em entrevista ao New York Times, que pessoas que interrompem as outras com frequência podem sofrer de alguns complexos pessoais e comportamentais.
Traços de personalidade, como a necessidade de tomar controle das situações e a sensação de impotência e impaciência advindas dessa impressão, podem fazer com que alguém se interponha mais do que deveria na fala de outras pessoas.
Além disso, aspectos da educação familiar, traumas de criação e a reprodução de comportamentos ensinados também podem explicar essa tendência. É comum, principalmente em meios familiares mais tradicionais — em que vigora uma hierarquia interna mais rígida entre papéis —, que os adultos interrompam as crianças nas suas falas ou que a ordem do discurso seja organizada de uma forma que privilegie essa espécie de interrupção.
Nesse caso, o adulto que cresceu com essa referência de comportamento pode acabar por normalizá-lo e reproduzi-lo sem que perceba o impacto exato que pode ter na sua própria socialização.
Além disso, notam especialistas, alguns transtornos de conduta, como o TDAH (transtorno do déficit de atenção com hiperatividade), são motivos comuns para esse comportamento. Quem sofre de déficit de atenção pode, às vezes, ter dificuldade de seguir monólogos, e a necessidade de haver pequenas pausas e redirecionamentos na interação pode causar as interrupções — que não são exatamente sinais de desrespeito.
A mesma coisa se dá com pessoas no espectro autista e outras formas de neurodivergência, que podem, igualmente, precisar desse espaço de redirecionamento com uma frequência um pouco maior.
Uma outra teoria, de acordo com o pesquisador Carl Rogers — o desenvolvedor da Abordagem Centrada na Pessoa, um método de psicologia humanística da terceira força da psicologia —, talvez se relacione à dificuldade de algumas pessoas com a escuta ativa, que é uma habilidade social tão cultivada quanto as outras, como o carisma, o diálogo, a expressão empática.
Escutar é, também, um exercício; e, como tal, deve ser praticado, diria Rogers. É uma posição em que o ouvinte se coloca deliberadamente, que envolve a suspensão de julgamentos próprios e uma capacidade de colocar-se, de maneira singela, na posição de quem fala — na posição de quem o outro escuta.
É uma prática, inclusive, de inteligência emocional, que define, além da educação, um exercício de paciência e empatia.
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