Ex-presidente Lula, ex-prefeito de Salvador ACM Neto e o presidente Jair Bolsonaro (PL) (Foto: Montagem/Redação CFF)
Se existe uma tradição na política (partidária) brasileira - além da compra de votos, é claro - é que terceira via não se elege. No máximo tiras uns votos aqui e acolá e serve para engordar a "maioria". Aliás, em Camaçari, essa estratégia recebeu o apelido de "efeito Zé de Elísio".
Pois bem, ACM Neto, uma das figuras políticas mais fortes da Bahia e do país, historicamente de direita e opositora do PT, agora vai deixar de ser o outro lado da moeda e se tornar a famigerada "terceira via". A informação está em pauta desde a entrevista concedida ao Tribuna da Bahia por seu ex-amigo e atual pupilo de Bolsonaro (PL), João Roma, na segunda-feira (6). Entenda.
João Roma, mordendo a mão...
Dizem que o brasileiro tem memória curta, especialmente quando se trata de política, mas, para entender como ACM Neto deixou de ser a direita para virar o "centrão" é preciso lembrar quem é João Roma na fila do SUS, como se diz em bom baianês.
Pernambucano e ex-funcionário da prefeitura de Salvador, João Roma, atualmente no Republicanos, foi eleito deputado em 2018 com votação expressiva graças aos esforços de Netinho. Até então, ele era Chefe de Gabinete e braço direito de Neto na gestão da política municipal. Assim como Rui Costa havia sido Chefe de Gabinete e braço direito de Wagner. Isso, até Roma aceitar o convite de Bolsonaro para assumir o Ministério da Cidadania. Na época, ACM Neto declarou ter sido pego de surpresa.
“A decisão me surpreende porque desconsidera a relação política e a amizade pessoal que construímos ao longo de toda a vida”, disse ACM na época, avaliando como "lamentável" o aceite do convite. Desde então, Roma e Neto não se falam.
Bolsonaro
Crescido e criado com leite e pera baianos, João Roma está totalmente dedicado aos interesses de Bolsonaro e nada disposto a facilitar a vida de Neto. Ele, que é o principal articulador da estratégia de reeleição de Bolsonaro, deixou bem claro que tem zero interesse em apoiar qualquer composição que beneficie diretamente ACM Neto na disputa presidencial.
"Eu tenho dito que converso com todos os agentes da política. Eu sou deputado federal licenciado, mantenho um excelente diálogo com todos do mundo político, mas a questão com o ACM Neto é que não há diálogo realmente desde o último dia 12 de fevereiro. Mas também não é impeditivo. É possível ter. Mas é possível também ter clareza nos projetos. Eu estou no projeto que dará suporte à reeleição do presidente Bolsonaro. Ele aceita Bolsonaro no palanque? Então, se não há intuito dele em se aproximar do presidente Bolsonaro, não temos equação política", declarou ele ao Tribuna, ao ser perguntado se haveria possibilidade de aliança com ACM Neto.
União Brasil
Neto, por outro lado, já deixou claro também que não tem interesse em apoiar Bolsonaro - embora nada tenha comentado, até então, sobre as "imposições" de João Roma.
"Nosso caminho é ter candidato próprio à Presidência. Esse partido não nasce debaixo das asas do governo e não há nenhum interesse de estar fazendo jogo com perspectiva de negociar o que quer que seja com o governo”, disse Neto, um dia antes da entrevista de Roma, em live promovida pelo Uol, falando do caminho a ser seguido pelo seu novo partido, o União Brasil.
E aí está: com os ex-amigos e agora aparentemente personas non gratas concordando em discordar, ACM Neto, historicamente representante da direita, se vê sendo empurrado para a terceira via, essa, por sua vez, historicamente fadada à derrota.
E por falar em terceira via, ACM Neto teria declarado ao UOL que Ciro Gomes é um nome que vê com simpatia para apoiar em 2022. Estaria Neto se aproximando lentamente da esquerda?
Depois da queda, o coice...
Se a situação de ACM Neto já não fosse delicada no cenário nacional, João Roma está caminhando para colocá-lo ainda mais contra a parede no cenário estadual também: opositor natural do PT e candidato certo e forte ao governo do Estado, Neto também terá que se preparar para lutar contra a sede bolsonarista: há grandes chances de João Roma ser candidato ao governo da Bahia, um dos colégios eleitorais mais desejados por Jair Bolsonaro.
"Estamos ainda de maneira embrionária buscando essa composição, que envolve aí Republicanos, PL. O PP ainda não, nesse momento, uma vez que o PP tem uma nuance específica no estado. Então, o que está se colocando hoje, portanto, é uma movimentação em torno de uma possível candidatura minha ao governo do estado da Bahia, que já vem sendo noticiada", explicou Roma à Tribuna.
Ou seja, com o PT à esquerda e João Roma à direita, Neto ficará, mais uma vez, condicionado ao posto de terceira via.
2022 promete ser um ano eleitoral interessante.
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