Um adolescente foi morto durante operação de policiais militares da Rondesp Atlântico, na madrugada deste domingo, no bairro do Engenho Velho da Federação. Valney do Rosário Pereira, 17, foi baleado três vezes. Ele foi levado pela guarnição ao Hospital Geral do Estado (HGE), onde chegou morto. De acordo com a polícia, uma guarnição fazia uma incursão na localidade da Lajinha, por volta da 00h50, quando foi surpreendida por seis homens armados. No confronto, Valney foi atingido no tórax, perna direita e rosto.
Ainda segundo a polícia, com Valney foi encontrado uma pistola calibre 380, modelo 938 da marca Taurus. No hospital a guarnição encontrou mais um suspeito ferido no confronto e acabou preso. Trata-se de Mateus Cordeiro Magalhães. Na hora do confronto, ele deixou cair os documentos pessoais e um carregador de pistola municiado.
Além dos baleados, foram conduzidas para o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), mais cinco pessoas envolvidas na ocorrência. São elas: Renan Santos Fonseca, 19 anos, Jackson Ramos de Almeida, 26, Luiz Antônio Santos dos Santos, 24 e José Valter Bispo Ramos Filho, 22.
Com eles foram apreendidos os seguintes materiais: uma espingarda calibre 12; uma submetralhadora calibre 40; um revólver calibre 38; um carregador de pistola 40; 19 papelotes de cocaína; uma porção de crack; um uniforme camuflado do Exército Brasileiro; Gol cinza, R$ 308,85. Segundo moradores, o tráfico de drogas da região é controlado pela facção Bonde do Maluco (BDM).
Família
A família de Valney nega que houve confronto. Segundo o pai do adolescente, Valney estava reunido com outros rapazes no Largo da Paz, quando os policiais chegaram atirando. Ferido, ele correu para casa. “Ele pulou o portão e se escondeu no quintal do vizinho e começou a gritar pelo nome da mãe e da irmã”, contou o pai, que preferiu não se identificar.
Os policiais então, escutaram o pedido de socorro e foram atrás de Valney e pularam o portão que dá acesso à uma vila de casas onde moraram os parentes do adolescente. “Ele foi cercado e o mataram. Depois, jogaram o corpo numa outra casa, onde outros policiais já estavam e foram para o HGE”, disse o pai.
“Pensei em sair para ajudar, mas temi pela minha vida. Eles poderiam me matar também. Infelizmente não pude fazer nada”, disse uma tia do rapaz que acordou com os gritos de socorro do sobrinho.
Infrator
O pai de Valney disse que o filho já foi jurado de morte pelos policiais. “Em agosto do ano passado, ele foi baleado na perna e só não morreu porque uma tia implorou aos policiais que não atirassem. Eles o deixaram vivo, mas juraram que iam matá-lo”, disse o pai.
Valney tinha envolvimento com o tráfico. “Infelizmente a morte dele era algo que a gente já previa. Ele sempre andava em más companhias, chegam sempre tarde em casa, não queria sair dessa vida. Chamei para morar comigo em Feira de Santana, mas ele recusava. Mas nada disso justifica o que os policiais fizeram”, ponto o pai.
Truculência
Os moradores negam também que houve tiroteio. “Eles chegaram como é de praxes: atirando para todos os lados, sem se importarem com os pais e mães de família”, disse uma moradora. Segundo ela, eram mais de 20 policiais que chegaram à Lajinha.
A reportagem do CORREIO esteve no Largo da Paz e constatou perfurações de balas em portões e paredes de casas e carros. "Vivemos acuados por quem deveria nos proteger. Ontem isso aqui ficou tomado de policiais. Tem marca de tiro para todo os lados. Olha para isso ? O dono sequer poderá sair porque a própria polícia vai abordá-lo por causa do tiro", disse um morador, apontando para o buraco de uma bala no vidro traseiro de um Gol.
Uma mulher disse estava sentada no sofá, quando a bala atravessou o portão de sua casa. “Entrei em pânico. Corri para o outro quarto e fui parta debaixo da cama. Só saí quando os tiros pararam. Foram mais 10 minutos nessa tensão”, relatou. “A vizinha da casa de cima se mudou há pouco mais de dois meses. Isso porque ela estava na cozinha quando uma bala passou de raspão em sua cabeça. Por muito pouco não aconteceu uma tragédia”, complementou.
Pela manhã, moradores recolheram cápsulas. "Foram muitos disparos. A sensação é que a gente estava numa guerra", declarou.
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