Uma guerra de facções criminosas, interceptada pela Polícia Militar, deixou nesta terça-feira, 2, a cidade do Rio em alerta, bloqueou a Avenida Brasil e a Rodovia Washington Luiz, na zona norte e Baixada Fluminense, com nove ônibus e dois caminhões incendiados (e saqueados). Dois supostos criminosos foram mortos, três policiais ficaram levemente feridos e 45 suspeitos foram presos. A Polícia apreendeu 32 fuzis, 6 pistolas e 10 granadas.
Os intensos tiroteios, os incêndios e as novas tentativas de saque contra veículos que passavam - com moradores chegando a pará-los com ameaças e até com objetos na pista - provocaram quilômetros de engarrafamento. O governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) pediu ao presidente Michel Temer reforço de tropas da Força Nacional de Segurança e Polícia Rodoviária Federal para ajudar no combate ao crime. Negou, porém, que o pedido tivesse relação com os incidentes. Disse que já tratara do assunto com o Planalto na semana passada, por causa da grande quantidade de fuzis que têm sido apreendidos no Estado desde o início de 2017.
Segundo a Polícia Civil, o Comando Vermelho (CV) se organizou para retomar do Terceiro Comando Puro (TCP) o controle sobre a favela Cidade Alta, que fica no bairro de Cordovil, às margens da Avenida Brasil. Em outubro, o TCP havia expulsado o CV dessa comunidade, diz a polícia. Na madrugada de ontem, integrantes do CV partiram de pelo menos nove favelas da Região Metropolitana para retomar a área e atacar os rivais em Cordovil. A PM interceptou os criminosos e houve confrontos, seguidos pelo incêndio dos veículos.
Segundo a polícia, os criminosos partiram das favelas do Borel, Formiga, Kelson's, Vila Cruzeiro, Penha (todas no Rio), Salgueiro (em São Gonçalo), na Região Metropolitana e outras de Duque de Caxias (Baixada Fluminense). Todas são controladas pelo CV. Quando detectou a movimentação, a Polícia Militar mobilizou cinco batalhões (16°, 21º, 22º, Batalhão de Operações Especiais e Batalhão de Ações com Cães).
A interceptação da polícia não impediu tiroteios entre criminosos rivais. Simultaneamente, bandidos atacaram ônibus, principalmente na Avenida Brasil e nas imediações da Rodovia Washington Luiz, que liga o Rio a Minas. Os incêndios complicaram o trânsito na cidade por mais de três horas. Também foram incendiados dois caminhões. Em meio à confusão, criminosos chegaram a trafegar pela Avenida Brasil dando tiros para o alto. À tarde, dezenas de pessoas saquearam um dos caminhões incendiados, na Avenida Brasil.
Policiais militares estavam a um quarteirão, mas não tentaram impedir. Entre as cargas saqueadas havia muitas bisnagas de creme dental. Os saqueadores, homens e mulheres, levavam tudo em sacolas plásticas e ainda tentaram parar caminhões na via para saqueá-los, mas não conseguiram. O caminhão saqueado estava próximo do Mercado São Sebastião, na altura da Penha (zona norte). Ao perceber que eram observados por uma equipe de reportagem, saqueadores ordenaram que a equipe se retirasse e não fizesse fotos. “Toca seu rumo, toca seu rumo”, repetiram.
Disputa entre facções
Segundo a Polícia, essa disputa entre CV e TCP não envolve a facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC), suspeita de tentar se infiltrar no Rio. O histórico de conflitos no Rio opõe três facções: o Comando Vermelho, o Terceiro Comando Puro e o grupo denominado Amigos dos Amigos (ADA). Enquanto a Polícia Civil afirma que o TCP expulsou o CV e dominava a favela da Cidade Alta desde o ano passado, policiais militares afirmaram que até recentemente era a ADA que dominava a comunidade. Chefes dessa quadrilha teriam aderido ao TCP e portanto estava ocorrendo uma transição entre as duas facções. Segundo essa versão, o Comando Vermelho queria aproveitar a troca de comando para assumir o controle do tráfico na área.
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