De tantos altos e baixos que já viveram no cargo, parece até que Guto Ferreira e Argel Fucks estão como técnicos de Bahia e Vitória há anos. Mas, não: eles têm tão pouco tempo de casa que encaram neste domingo (9), às 16h, na Fonte Nova, o primeiro Ba-Vi deles. E todo torcedor baiano sabe o que dizem sobre o efeito do clássico na carreira de um treinador.
E, às vésperas de encarar um momento tão importante, cada um mostrou sua personalidade. Na única entrevista coletiva que deu na semana do Ba-Vi, após vencer o Flu de Feira na quarta-feira (5), Argel evitou falar sobre o rival ou seu técnico: “Acho que este não é o momento para falar sobre o clássico”, disse, secamente.
“Acho que treinador, quanto menos falar, melhor. Quem tem que aparecer é o jogador, ele é a estrela. Treinador é um coadjuvante”, completou.
Nos dias seguintes, foi blindado pela assessoria de comunicação do clube, para que nenhuma pergunta fosse feita a ele. Por outro lado, na sexta-feira (7), treinou com os portões abertos para a imprensa e ainda liberou a escalação do rubro-negro para o clássico.
Já Guto Ferreira deu entrevistas e falou sobre o clássico não só após vencer o Atlântico, na quarta, como na sexta-feira. Por outro lado, não deu uma dica sequer sobre o time que jogará no domingo. Nem mesmo se considera Edigar Junio, voltando de lesão, apto a jogar.
“Nada. Segredo total. Não é mistério. Falar não vai somar nada para mim. Tudo que eu fale pode passar coisas para ele (Argel), e aí vou marcar um gol contra (risos)”, explicou.
Retrospecto
Ambos já foram bastante ‘fritados’ no cargo. Na virada do ano, os torcedores chegaram a discutir se valia a pena ou não apostar nas suas permanências, mas agora os comandante vivem momento tranquilo.
Nos nove meses de cargo, Guto sempre foi cobrado pelo desempenho fora de casa do time. Na Série B, venceu apenas duas em 13 partidas como visitante. Em 2017, afastou a crítica ao vencer cinco em 11. Na atual temporada, perdeu apenas uma partida – para o Paraná, em Curitiba, pela Copa do Brasil. Seu aproveitamento no total é de 66%.
Com a confiança a seu favor, Guto quer agora o Ba-Vi: “Essa rivalidade, esse clima em torno da partida, é o que faz a importância dela”, disse, sobre o fato do duelo não valer mais nada para a classificação.
“Cada clássico aqui é um campeonato à parte. Essa partida pode não ser decisiva para o campeonato maior, mas é um campeonato individual. O torcedor do Bahia enxerga assim, então temos que respeitar isso e trabalhar por essa rivalidade”, completou o tricolor.
Já Argel chegou até a ser ‘demitido’ neste ano, como noticiaram erroneamente alguns veículos após o triunfo magro por 1x0 sobre o Galícia, no início de março. Após aquilo, o time conquistou uma classificação convincente sobre o Vasco na Copa do Brasil e engatou a atual fase de oito triunfos seguidos. Em quase sete meses no Leão, seu aproveitamento geral é de 71%.
“Eu sempre procurei manter a mesma conduta de trabalho, quando ganhei ou quando perdi, quando estava sendo vaiado ou enquanto estava sendo elogiado”, disse Argel.
“Me sinto muito mais tranquilo nesses duelos grandes, num clássico, do que num jogo pequeno. Porque para um jogo grande o atleta se prepara, ele gosta de jogar. Vimos isso contra o Vasco e vamos ver agora no clássico. Isso é bom. A gente trabalha sempre para chegar num jogo como esse com estádio lotado. Para a gente, é um prazer muito grande. Então, não é ansiedade, é felicidade de poder trabalhar no clássico”.
Velhos conhecidos
Apesar de duelarem pela primeira vez na Bahia, os dois já se cruzaram muito no futebol brasileiro. Ao todo, foram quatro embates entre Guto e Argel, com vantagem para o técnico tricolor, que venceu dois. Há ainda um empate.
Começou em 2013, quando a Portuguesa de Guto venceu o Criciúma de Argel por 3x1 em Santa Catarina pela Série A. O contraponto deu-se dois anos mais tarde. Argel, pelo Figueirense, bateu em casa a Ponte Preta de Guto também por 3x1, também pela Série A.
Depois, a Chapecoense de Guto e o Internacional de Argel se encontraram duas vezes. Na primeira, o atual técnico tricolor venceu na Arena Condá por 1x0 pela Série A de 2015. No ano passado, também pelo Brasileiro, o atual comandante rubro-negro cedeu um empate no Beira-Rio em 0x0.
Há ainda outra curiosidade: em 2011, Guto foi demitido do Figueirense em julho após um início ruim de Série A. Quem o substituiu foi justamente Argel, que tirou o time do Z4.
Em entrevista, Guto mostrou respeito pelo adversário: “As equipes dele são sempre muito aguerridas e competitivas. O trabalho dele dispensa comentários, pois é um cara que está há um bom tempo na Série A, com resultados importantes. O que mais quiser saber é só jogar no Google que você terá toda a vida do cara (risos). Brincadeira à parte, ele tem uma história de carreira no futebol e a gente respeita”.
Com mais dois confrontos à frente com Argel, pela Copa do Nordeste, Guto não teme mostrar as armas ao rival. “Logicamente que ser o primeiro do ano, o primeiro de cada técnico, pode fazer com que você acabe mostrando armas que eu poderia usar depois para surpreender. Mas há uma rivalidade que preciso respeitar e temos que lutar por ela”.
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