Embora com juros mais baixos de até 2%, é preciso cuidado para usar imóvel como garantia (Foto: Mila Cordeiro | Ag. A TARDE)
Em um cenário econômico em que quase 60% das famílias brasileiras estão endividadas, segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio, e as opções de crédito ficam escassas e mais caras, a modalidade de empréstimo que permite que o imóvel próprio sirva como garantia transforma-se na opção com juros mais baixos do mercado.
Especialistas alertam, no entanto, que a decisão de deixar o imóvel como garantia de um empréstimo deve ser feita com muito planejamento e segurança de que o compromisso será cumprido, já que a penalidade para a inadimplência é perder a casa própria.
Enquanto os juros do cheque especial chegam a 13% ao mês, o rotativo do cartão de crédito, a 16% ao mês, em média, e o crédito consignado pode chegar a 2,0% ao mês, os juros dessa modalidade ficam em 1,96% ao mês, em média, porque os bancos têm a segurança de que, se o cliente não pagar, o valor emprestado pode ser recuperado com a venda do imóvel em leilões. Judicialmente a modalidade é conhecida como empréstimo mediante alienação fiduciária.
De acordo com o presidente do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-BA), Gustavo Pessoti, esta é uma opção de crédito ainda pouco conhecida pelos clientes e pouco divulgada pelos bancos. "Em geral, há um desconhecimento muito grande. Geralmente as pessoas acham que o crédito consignado é o crédito que tem juros mais baixos. Mas, na verdade, essa é a operação mais barata do mercado", explica Pessoti.
Os bancos usualmente definem valores mínimos de empréstimo. A Caixa Econômica Federal, por exemplo, permite empréstimos a partir de R$ 20 mil. O máximo permitido é até 60% do valor do imóvel. Prazos e juros variam entre os bancos e entre os perfis de clientes, mas os especialistas afirmam que partem de 1,22% e podem chegar a 2% ao mês.
Gastos extras
É comum que juntamente com a operação de crédito os bancos ofereçam seguros de vida e de danos físicos ao imóvel. Além disso, alguns bancos podem cobrar taxas de avaliação. A propriedade também precisa estar quitada, e alguns bancos ainda exigem renda mensal mínima.
Apesar do desconhecimento sobre a modalidade, a crise econômica, os níveis altos de desemprego e a dificuldade do acesso ao crédito estão fazendo com que este tipo de opção seja cada vez mais procurada, de acordo com Miguel Oliveira, diretor de estudos e pesquisas econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
"Com o desemprego alto, os bancos acabam sendo mais seletivos no crédito. Nós acompanhamos o interesse das pessoas que buscam esse tipo de operação. É uma boa operação porque é bom para o cliente, que foge dos juros mais caros e dos prazos muito curtos, e é bom para o banco, porque há o imóvel como garantia", afirma o diretor da Anefac.
Caso de inadimplência
Por colocar o imóvel em risco em caso de inadimplência, o economista Gustavo Pessoti alerta que é preciso muito planejamento financeiro antes de considerar essa opção. "Por ser um empréstimo de longo prazo, é preciso ficar ainda mais atento. Se a pessoa já estiver endividada demais, precisa ter 100% de certeza que a prestação cabe no bolso. Não pode haver margem para erro", afirma Pessoti.
Em caso de inadimplência, o imóvel vai a leilão. Caso o valor de venda do imóvel seja maior do que a dívida, o proprietário recebe a diferença. No entanto, o perigo é que o imóvel seja vendido por um preço muito abaixo do mercado.
O economista também não aconselha que as pessoas busquem essa modalidade para fugir de juros mais altos, como é o caso de dívidas no cartão de crédito. Nesses casos, o mais indicado é um crédito consignado.
"Em um consignado você fica com o nome sujo, a penalidade é ter dor de cabeça, ficar sem crédito, é péssimo, mas ainda assim é uma consequência menor do que perder a residência", alerta.
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