A prefeitura de Salvador divulgou, nesta quarta-feira (4), que a obra de contenção de encosta na comunidade de Barro Branco, no Alto do Peru, já está 60% concluída. Com investimento previsto de R$ 8 milhões, ela vem sendo alvo de críticas por parte dos moradores da área, que reclamam da demora da conclusão e de que a empresa responsável costuma empregar poucos funcionários na obra, que é de grande porte.
O prefeito ACM Neto se manifestou sobre o assunto e explicou que a obra é complexa e, por isso, demanda maior tempo para sua conclusão. “As obras não estão demorando. É uma contenção de encostas bastante complexa. Está em estágio bastante avançado, não há risco de deslizamento de terra”, comentou ele, nesta quarta. Ainda segundo o prefeito, “a terra que desceu é da própria obra, que correu em direção à Avenida San Martin”. “O governo federal prometeu dinheiro pra ali e não fez nada. Eu assumi com recursos próprios para garantir a contenção”, completou Neto, criticando o governo federal.
Na área, houve um acidente no início da manhã desta quarta, no qual uma escadaria que dá acesso a uma casa desabou. O titular da Secretaria de Infraestrutura e Defesa Civil (Sindec), secretário Paulo Fontana, declarou que esteve no Barro Branco na manhã desta quarta e explicou o que ocorreu, por meio de sua assessoria. “Houve uma infiltração no talude, fazendo com que um maciço de terra se deslocasse atingindo uma rede de água e provocando o deslizamento. As obras de contenção da encosta avançam em ritmo acelerado, mas, infelizmente, a área atingida ainda não havia recebido a cobertura de cortina atirantada, que já compõe 130 metros da encosta, cujas ações já alcançam 60% e serão finalizadas até outubro", relatou Fontana.
Até as 18h09 desta quarta, foram feitas 97 solicitações de emergência à Codesal, sendo registrados 29 deslizamentos de terra, 21 ameaças de deslizamento e 26 ameaças de desabamento de imóvel. Houve ainda sete alagamentos de imóveis e dois desabamentos de muros.
Aluguel Social
Na parte de baixo do Barro Branco, poucas casas continuaram ocupadas após as últimas chuvas. Alguns proprietários estiverem no local para limpar os imóveis, após as últimas chuvas, mas a maioria recebe o Aluguel Social concedido pela prefeitura, após a tragédia do ano passado, que deixou 11 mortos em um deslizamento no local.
Nesta quarta, por conta de novos deslizamentos, porém, sem mortos ou feridos, mais seis famílias passaram a ter direito ao benefício, de acordo com a prefeitura. A partir da próxima segunda-feira (9), os moradores que deixaram suas casas já poderão retirar os R$ 300 do auxílio, que é mensal.
Tubulação rompida
Ainda conforme a prefeitura, os imóveis dessas famílias tiveram de ser evacuados após o rompimento de uma tubulação da Embasa, no topo da obra da encosta no Barro Branco, o qual teria comprometido a estabilidade da encosta. Ninguém ficou ferido, mas dois imóveis tiveram danos em suas estruturas e outros quatro correm risco.
Em nota, a Embasa informou que o deslizamento de terra no local ocorreu durante a forte chuva da noite de terça-feira, “que causou o quebramento de um trecho da rede distribuidora de água que atende a rua Boa Vista, na comunidade do Barro Branco”. Segundo a companhia, assim que souberam do ocorrido, durante a madrugada desta quarta, “técnicos da empresa desligaram a linha e iniciaram o conserto da tubulação pela manhã” e garantiram que o trabalho estaria concluído no final do dia.
A prefeitura informou que os trabalhos de contenção no local, que são realizados pela Superintendência de Conservação e Obras Públicas (Sucop), órgão vinculado à Sindec, seriam retomados assim que fosse finalizado o reparo da tubulação da Embasa. Confirmou ainda que o cronograma das obras segue com a previsão de entrega para outubro.
Conversa com comunidade
A subprefeita da região, Enilza Rocha, esteve no local acompanhada de agentes da Guarda Municipal para conversar com moradores. Segundo ela, o trabalho de sensibilização está sendo feito desde o final da manhã desta quarta, após a Defesa Civil (Codesal) ter sinalizado para a Prefeitura-Bairro, às 11h da véspera, que havia riscos de desastres, devido ao acumulado de chuva na região.
“Há uma ansiedade das pessoas para que as obras de contenção estejam prontas. Mas se trata de uma obra de grande porte e as empresas responsáveis não estão medindo esforços para terminar”, afirmou nesta quarta.
Drama dos moradores
Eduardo Santana Costa, 51 anos, é morador da casa que a escada desmoronou, na Rua da Boa Vista, no Alto do Peru. “Uma engenheira da empresa que está construindo a obra e a pessoa da Defesa Civil estiveram aqui e disseram que não tinha risco a minha casa. O risco era da casa do lado, segundo eles. Aí minha casa agora que está prejudicada e a outra não. Quando chove a água escorre pela rua e cai na encosta. Eles colocaram um tubo aí, mas não resolveu. Ontem à terra começou a descer e a tubulação da Embasa quebrou, ficou infiltrando e aí junto com a chuva desceu tudo (a escada que dava acesso a casa)", contou ele.
Eduardo e outra vizinha deixaram a casa com medo de novos desastres. Um técnico da Codesal esteve no local e conversou o mesmo com os moradores, dizendo que a primeira "fuga de material", provocada pela chuva, havia prejudicado a tubulação e, com isso, houve o deslizamento. Um funcionário da empresa que está realizando as obras de contenção também comentou no local que parte da obra já realizada foi encoberta pelo barro que desceu, chegando à Avenida San Martin.
Segundo operários da Limpurb, que trabalharam na limpeza do barro que encobriu a rua e chegou até a Avenida San Martin, cerca de oito caçambas de terra foram removidas do local. “A escadaria que caiu fica abaixo de uma rua que eles mexeram para começar a obra (de contenção), mas a água dessa rua cai toda sobre essa parte do barranco. É claro que iria cair”, afirmou Antônio Raimundo Silva, 48, morador do Barro Branco.
Outro morador, Raimundo Bispo de Oliveira, 51, se juntou para ajudar o vizinho que teve a casa invadida pela lama. “A lama invadiu a casa toda, agora estamos aqui ajudando a limpar, do jeito que a gente pode”, contou ele, enquanto retirava o barro com uma pá para colocar em um carrinho de mão.
O babalorixá Ademário Luciano Pinheiro era outro que observava a situação preocupado. Ele perdeu tudo nas chuvas de 2015. Agora, teme que o resto da casa desmorone, antes da demolição. “Eu não estou mais morando aqui, estou no aluguel em outro lugar. Disseram que iam demolir minha casa, mas ainda não aconteceu. Aí depois é que vou receber a indenização. Fico com medo que a casa caia e saia levando tudo”, declarou.
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