PERCEPÇÃO

Engana-se, redondamente, quem imagina que o povo não percebe tudo o que está acontecendo no Brasil. A nova pesquisa do Instituto Ipsos é mais uma prova. Enquanto a rejeição a Moro deu um pulo e já chega a 45% (apenas 48% o aprovam), a desaprovação a Lula, condenado a 9 anos e meio de prisão pelo juiz de Curitiba, caiu de 66% para 59%  - ainda alta -em comparação com agosto. Na corrida presidencial, a liderança do ex-presidente subiu de 32% para 40%. Dados significativos.

ORIGEM

A apologia ao golpe militar feita pelo general do Exército Antônio Mourão está na mesma raiz que possibilita aos Dallagnol e Moro da vida condenarem o ex-presidente Lula sem provas. A mesma que faz o presidente Temer continuar no cargo, apesar das fartas provas de corrupção e obstrução da Justiça. De Aécio continuar senador, de os ministros Jucá, Moreira, Padilha e outros permanecerem soltos. O golpismo deixou o Brasil sem leme.

CLARIDADE

Uma luz na escuridão que predomina no sistema de Justiça. A sub-procuradora-geral da República, Áurea Maria Etelvina Nogueira Lustosa Pierre, defende, em parecer, a necessidade de o Superior Tribunal de Justiça discutir o pedido de suspeição do juiz Sérgio Moro para julgar o ex-presidente Lula. Realmente, é o mínimo que o STF tem de fazer: apreciar a questão.

NEGOCIATA

Temer perdeu no Supremo Tribunal Federal. Fracassou a tentativa de devolução da segunda denúncia de Rodrigo Janot para avaliação da nova procuradora geral da República, Raquel Dodge, o que significaria arquivamento líquido e certo. Nesta quarta-feira, o STF decidiu enviá-la para apreciação da Câmara Federal. Agora, a negociata para compra de votos ganha corpo e a tendência, infelizmente, é a maioria governista rejeitá-la, assim como aconteceu com a primeira denúncia.

BARATO

O pensamento predominante nos segmentos democráticos do país é de ter sido minimizada demais a grave indisciplina cometida pelo general Antonio Hamilton Mourão, que defendeu golpe militar em palestra na Maçonaria. O entendimento é de que houve um atentado à Constituição, cometido por um oficial da alta hierarquia do Exército, na ativa. Teria de ser, no mínimo, preso, por agressão ao Estado de direito e à democracia. Ficou barato.

Evidentemente, o candidato mais competitivo para representar as forças democráticas e progressistas nas eleições do próximo ano é o ex-presidente Lula. Quanto a isso, não há o que discutir. As pesquisas eleitorais demonstram claramente. No entanto, a conjuntura exige análises e atitudes que levem em conta outros cenários, principalmente porque depois de 31 anos de democracia (1985-2016), o Brasil volta a conviver com a excepcionalidade, com a anarquia institucional.